quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

#desafiodoedvitorelli : encerramento

Meus queridos amigos, encerrou-se o período do desafio. Quero agradecer muito a todos que participaram dessa brincadeira séria. Muita gente realmente se mobilizou e, acredito, tal como eu, pensou, pelo menos um dia nesse mês de dezembro: "estou cansado, mas vou ler mais um pouco para cumprir o desafio". Ou estudou em um sábado de sol, que estava reservado para a piscina. Se isso aconteceu com vocês, eu já me dou por satisfeito. Obrigado a todos que participaram e aos blogs que divulgaram a iniciativa. 

Muitas são as lições que ficaram para mim mesmo sobre o desafio e sobre os seus efeitos. Mas hoje é natal, não é dia de encher ninguém do, as minhas análises. Só quero dizer-lhes que fiquei muito feliz pela receptividade e por ter podido contribuir para que o mês de dezembro dos estudantes, geralmente tão deprimente, tenha sido mais produtivo e divertido. 

Agora é hora de descansar. A não ser que você tenha um objetivo de prova imediato, faça o seu recesso, pelo menos até o dia 3. Esqueça os estudos, não fique se vitimizando. Lembre-se de que a dor é necessária, mas o sofrimento é opcional. 

Nos próximos dias anuncio os ganhadores dos livros, mas uma coisa quero anunciar desde já. Gostei tanto da ideia que este vai ficar conhecido com o 1º #desafiodoedvitorelli. 
No próximo dezembro tem mais. 

Um abraço, excelente natal e ano novo a todos. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

#desafiodoedvitorelli – dias 9 e 10

Hoje estamos completando 10 dias do desafio. Se você conseguiu acompanhar o pique direitinho, estará completando 230 páginas de leitura. É quase a metade. Acredito que algumas percepções que tenho sobre a leitura – afinal, estou realizando-a também – sejam compartilhadas por muitos de vocês.

Primeiro, se você, como eu, trabalha feito louco, além de estudar, deve ter percebido que ler 23 páginas por dia pode parecer fácil em teoria, mas não é. Especialmente se o livro for denso. Ainda mais se você estiver usando um método de fixação mais trabalhoso do que grifar, como é o caso de resumos, mapas mentais etc. Isso indica, de modo mais evidente, que trabalhar com metas modestas, mas que sejam contínuas, como eu proponho, é um exercício proveitoso para quem tem pouco tempo. 

Se você está exclusivamente estudando, mas usando um método de fixação trabalhoso, é provável que tenha conseguido ler mais de 23 páginas por dia, mas não muito mais. Eu diria que você deve estar chegando perto das 500 por agora, ou seja, aproximadamente 50 por dia. Essa é uma velocidade que eu considero ideal. Não se preocupe em fazer mais do que isso. Se sobrar tempo, é melhor você utilizar para aprender melhor o conteúdo dessas 50 páginas do que para ir adiante. Faça questões, leia jurisprudência, refaça provas antigas. 50 páginas por dia são 1000 por mês. Se isso tudo for conhecimento novo, é provável que você não o apreenda adequadamente. 

Se você está seguindo o desafio e lendo muito mais de 50 páginas por dia, meus parabéns. Seu desempenho é excepcional e esse é o patamar que todo estudante em caráter exclusivo deve almejar. Faço apenas um alerta: tenha absoluta certeza de que você não está trocando qualidade por quantidade. Se você ler 100 páginas por dia, só nos dias úteis, serão mais de 2.000 em um mês. São 2 livros grandes. Crie rotinas para verificar se você está, de fato, apreendendo esse conhecimento. Responder questões é o melhor termômetro para isso. Se você está errando muita coisa sobre um assunto que já estudou, talvez esteja na hora de pisar no freio e repensar a estratégia. 

E você, como anda seu progresso? Compartilhe e continue concorrendo aos livros. Mesmo se você não começou antes, é bem-vindo para ingressar agora. O importante é que essa nossa pequena comunidade progrida conjuntamente. Afinal, esse não é o espírito do Natal?

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

#desafiodoedvitorelli: Premiação

Ontem, em Brasília, eu explicava a um amigo a sistemática do desafio. Aí, no final da conversa, ele perguntou “tá certo, mas quem conseguir ganha o que?” E eu respondi: “Uai, nada”. Então ele disse “assim não dá certo, as pessoas têm que ganhar alguma coisa”. 

Na verdade, pensei, o prêmio são as 500 páginas lidas, que significam 500 a menos para ler até o dia da prova. Também significam passar menos tempo pensando no ano que está acabando e em tudo que você poderia ter feito e não fez. 

No final, entretanto, cedi e comecei a achar uma boa ideia incluir um prêmio para os vencedores do desafio. Afinal, até nos meus campeonatos de jogo de botão tinha que ter medalha. 

Então, lá vai: quem postar diariamente seu progresso, a partir de hoje, com a #desafiodoedvitorelli e, no final, postar o resultado de quantas páginas leu, concorre a um dos meus livros. Vou sortear entre os vencedores que fizerem as postagens 2 exemplares do meu Estatuto do Índio e 2 do Estatuto da Igualdade Racial e Comunidades Quilombolas. 

Então, agora, além da oportunidade de ler 500 páginas em um esforço coletivo, de não gastar dinheiro com prozac, rivotril ou diazepam, você ainda concorre a 4 livros no final. É só continuar lendo, postar seu progresso no facebook ou no twitter com a #desafiodoedvitorelli até o dia 23 de dezembro. O sorteio será no dia 24, para completar a sensação de que você, de fato, ganhou alguma coisa nesse mês de dezembro.

Mesmo que você termine antes as 500 páginas, tem que continuar postando o progresso da sua leitura até o dia 23, quando acaba o desafio.

domingo, 6 de dezembro de 2015

#desafiodoedvitorelli - Dia 5

Hoje é o 5º dia do desafio e, se você está seguindo a proposta, já deve ter lido 115 páginas do material que você escolheu. O que acharam até aqui? Está sendo fácil ou difícil manter esse ritmo? Eu hoje concluí toda a parte do processo de conhecimento do livro que escolhi. Os professores Marinoni, Arenhart e Mitidiero mantiveram a posição já defendida à luz do velho CPC fortemente contrária à tese da relativização da coisa julgada, defendida, por exemplo, por Humberto Theodoro Jr. Para eles, não se pode permitir que um direito de status constitucional como a coisa julgada seja ponderado pelo juiz em relação a outros direitos que não têm a mesma importância, a partir de um conceito aberto como a "injustiça" da decisão transitada em julgado. Eu confesso que não sei, não. Mas é essa a posição deles. 

Desafio caminhando. Amanhã começo execução. E vocês, como estão? 

sábado, 5 de dezembro de 2015

#desafiodoedvitorelli - Dia 4: más notícias

Ontem fiz apenas uma referência breve à minha leitura no Facebook, mas continua avançando por aqui. Eu terminei o capítulo de precedentes no novo CPC e iniciei o de coisa julgada. É muito interessante a discussão sobre os limites subjetivos da coisa julgada e seus efeitos sobre terceiros. A coisa julgada pode produzir efeitos sobre as partes, os terceiros interessados e os terceiros indiferentes, participem ou não do processo. O que muda é a natureza desses efeitos. A parte é atingida pela autoridade da coisa julgada. O terceiro interessado, por efeitos reflexos da decisão, o que permite que, querendo, ele ingresse na lide para defender a relação jurídica de que é titular. Os terceiros indiferentes sofrem os efeitos naturais da sentença. Assim, em uma ação de despejo, o locatário sofre efeitos como parte, o sublocatário, como terceiro interessado, e os parentes do locatário, que também serão obrigados a se mudar, como terceiros indiferentes. Logo, quando se diz que a coisa julgada não atinge terceiros, o que se quer dizer é que eles não são atingidos pela autoridade da decisão, o que não exclui a possibilidade de que sejam atingidos pelos seus efeitos. Interessante, não é mesmo?


A má notícia, meus amigos, é que o desafio não é desafio à toa. Embora no meu método tradicional eu não exija leitura aos finais de semana, o desafio os inclui. Assim, você só concluirá as nossas 500 páginas até o dia 23 de dezembro se ler 46 páginas neste final de semana, de hoje para amanhã. Lembre-se de que depois você vai ter duas longas semanas de ócio com a consciência tranquila, então, vamos fazer esse esforço extra.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

#desafiodoedvitorelli - Dia 2

Estou muito feliz com a adesão de dezenas de leitores ao desafio. Tenho certeza de que vamos chegar ao final do mês com a meta cumprida. Eu continuo cumprindo a minha. Hoje fechei o capítulo de processo nos tribunais e comecei o de precedentes: "precedentes são as razões generalizáveis que podem ser identificadas a partir das decisões judiciais". A ideia de precedentes é central no sistema estruturado pelo novo CPC. 

Obrigado a todos que estão participando, de modo especial ao blog "Diário de um Estudante de Direito", que compartilhou o desafio com seus leitores em: http://www.diariojurista.com/2015/12/professor-de-direito-lanca-desafio-de.html?m=1



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

#desafiodoedvitorelli - Dia 1

Apesar do dia corrido, cumpri minha meta de fazer a leitura das minhas 23 páginas para o nosso desafio coletivo. Estou começando do Capítulo 12 do livro que escolhi, o Curso de Processo Civil dos professores Marinoni, Arenhart e Mitidiero. Fui da página 560 a 585. O assunto é o processo nos Tribunais no Novo CPC. Estudei quatro incidentes recursais no Novo CPC: o incidente de conflito de incompetência, de arguição de constitucionalidade, ambos já bem conhecidos do velho CPC e os novos: incidente de assunção de competência (art. 947) e incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 976 e ss.), ambos voltados à formação de precedentes vinculantes, uma matéria central no novo CPC. 

E você, o que aprendeu hoje? Vamos fazer do desafio um ambiente de compartilhamento de conhecimento? Compartilhe lá no Facebook o que você aprendeu hoje com o nosso desafio. 

Dezembro: o desafio.

Contando com o dia de hoje, faltam 22 dias até o dia 23 de dezembro. Como eu disse ontem, 22 dias de depressão. Para contornar isso, quero propor que façamos, juntos, um desafio de leitura. Nós todos, inclusive eu, vamos ler 500 páginas até o dia 23 de dezembro. Vai ser nosso caminho de Santiago de Compostela. Nosso advento. Depois vamos descansar até o final do recesso (eu, aliás, vou para a Holanda!), beber todas no Reveillon. Sem culpa nenhuma. Exceto, é claro, se você for fazer a prova discursiva da AGU. 

Escolha um ou mais livros, separe o seu material e comece a fazer a conta. Eu já escolhi o meu. Vou concluir a leitura do volume 2 do Curso de Direito Processual Civil, dos professores Marinoni, Arenhart e Mitidiero, do qual estou na metade (desde julho, aliás). 

Convido vocês a postarem, comigo, todos os dias, o andamento da nossa leitura no Facebook e o Twitter, com a hashtag #desafiodoedvitorelli. Eu também vou postar. Se eu não ler nada no dia (é muito provável que eu não leia nada em vários dias, porque estou trabalhando feito um cachorro no final do ano) vou postar assim mesmo, com o mesmo número de páginas do dia anterior. Assim, podemos acompanhar coletivamente o nosso progresso e nos motivarmos uns aos outros.

500 páginas em 22 dias são 23 por dia. Muito pouco mais do que a minha recomendação. Mas é o seguinte: se você grifa, tem que ler e grifar. Se você resume, tem que resumir. Também vale somar páginas de vários livros, por exemplo, 10 de um livro e 13 de outro. 

Juntos, vamos fazer o dezembro mais produtivo de todos os tempos. Vamos afastar a depressão do final do ano avançando tanto que nem vamos ter tempo de olhar para trás. 

No final, vamos fazer um fechamento de quantas páginas o grupo leu. Minha meta: pelo menos 1 milhão de páginas lidas até o final do ano. Vamos juntos!

Chega de papo. Pegue seu livro e vamos começar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

1º de Dezembro: o pior dia do ano

1º de Dezembro é o pior dia do ano. Me desculpe se você faz aniversário hoje, mas é verdade. Hoje é o dia que todo mundo acorda e diz “Putz, acabou o ano”. Hoje é o dia em que você leva o baque de que aquilo que você não fez até ontem, não vai fazer mais esse ano. Certo, é claro que, no meu sistema de estudos (20 páginas por dia), você ainda vai ler 300 páginas até o recesso de natal. Mas, ainda assim, não é isso que vai mudar a sua vida. E é aí que bate aquela sensação de “outro ano vai...”.

Meus caros, este texto é puramente motivacional. Talvez ele soe como um touro em uma loja de cristais (Obs.: essa expressão popular é falsa. O Mythbusters já fez um teste e um touro, incrivelmente, não quebraria os cristais se fosse solto em uma loja). Eu sou mais conhecido, pelo menos na internet, por ser o cara das verdades duras do que dos afagos. O Dr. House dos concursos, como disse uma leitora. O cara do choque de realidade. 

Entretanto, eu reconheço que se existe um desafio na preparação para concursos, é a motivação. A razão é bastante simples: estudar, hoje em dia, é um empreendimento de longo prazo. Pode até ser que, por exceção, não seja para você. Eu tenho alunos que estavam na oral do MPF preocupados em completar 3 anos de efetivo exercício. Mas esses são apenas felizardos excepcionais que confirmam a regra. A regra é que você vai levar um bom tempo para passar. Não existe média. É enganoso falar em média. Cada um tem seu tempo

Como toda meta de longo prazo, o problema de estudar para concursos é que você tem que viver, durante muito tempo, a dor sem a recompensa. Você se sacrifica muito e não tem perspectivas de quando o sacrifício vai acabar. É sempre difícil saber se a meta está mesmo se aproximando. 

Meus amigos, meu convite a vocês, nesse horrendo primeiro de dezembro, parte de uma frase que eu repito recorrentemente a meus colegas de trabalho: foque-se no que você conseguiu, não no que falta.

Imagine se um procurador da República for pensar em toda a corrupção que existe por aí e no quão pouco nós conseguimos apurar e punir. Disso só vai resultar uma coisa: desânimo. Por outro lado, se você imagina o quão pouco era apurado e punido há 20 ou 30 anos e o quanto nós punimos hoje, verá que alcançamos um avanço expressivo. 

Com concursos, é a mesma coisa. Se você olha o edital e vê o quanto falta estudar, você tende a se desesperar. Por outro lado, se você compara o que você já estudou com o quanto você sabia no dia em que terminou a faculdade, vai certamente perceber que você avançou muito. Eu tenho absoluta certeza de que você que passou este ano estudando, está muito mais perto de ser aprovado do que estava no ano passado. Olhe para o que você conseguiu, não para o que falta alcançar. 

Nesse sentido, para quem já está alquebrado da luta de alguns anos de estudo, meu conselho é que, quando bater o desespero, você se lembre de qual foi a sua nota no primeiro concurso que fez na sua vida. Essa é uma informação que deveria estar na contracapa do seu caderno. Com certeza, essa nota é muito menor do que as que você obtém hoje (menor em termos relativos, é claro. Nota em concurso é algo que se avalia relativamente à dificuldade da prova, não de modo absoluto). Você verá que já avançou muito. 

Aí entra a piada dos portugueses que vinham a nado para o Brasil e, quando avistaram o corcovado, Manuel disse “Joaquim, estou muito cansado”. E Joaquim respondeu “Então vamos voltar”. Será que agora que você já nadou tanto você vai desistir? Será que você, apenas em razão do desânimo, vai deixar de honrar o tempo da sua vida que você dedicou aos estudos, desistindo? Tantas horas do seu irrecuperável tempo de vida têm que ser resgatadas. Você pode até mudar a meta (talvez dobrar a meta). Mas você simplesmente não pode desistir. Se a pessoa que você era quando começou a estudar, quando entrou na faculdade, pudesse falar com você hoje, certamente ela não permitiria que você desistisse. 

Estudar para concursos é algo realmente muito difícil. É se impor alcançar uma meta, hoje em dia, muito elevada. Mas isso não significa que seja inatingível, nem que você deva, pura e simplesmente, desistir no meio do caminho. Esse caminho, não é para os fracos. Se você resolveu entrar nele, seja, todos os dias, a mesma pessoa que você era no dia que tomou a decisão de começar. Motivado, empolgado, com sede de aprender. Algumas coisas vão ser fáceis, outras vão ser difíceis. Pode ser que você resolva que não quer mais a carreira que você queria no início, ou que não vale à pena continuar estudando depois de passar em um cargo intermediário. Tudo bem. O importante é que você continue cultivando aquela pessoa que tomou a decisão. Não deixe que o tempo a tire de você. 

Hoje eu estava viajando a trabalho e vi, na lanchonete do posto de combustíveis, uma cena que me comoveu. Um casal de idosos, já muito idosos, ambos com dificuldades de locomoção, viajando com uma filha, de uns 40 para 50 anos, portadora de deficiência mental bastante grave. Isso me fez pensar o que passa na cabeça desses pais, sabendo que seu tempo está irremediavelmente terminando e que essa pessoa, que precisa de tantos cuidados, não os terá por perto. 

O mundo, meus amigos, está cheio de dificuldades. O que nos diferencia é como nós as encaramos. Transforme o seu 1º de dezembro em um marco de estímulo. Estude duramente até o dia 23. Esforce-se ao máximo. Depois, curta a família até o dia 3 de janeiro. Não faça nada. Deixe dessa bobagem de sofrer porque não estuda no Réveillon. O momento do esforço extra é agora. O ano não acabou. 

Amanhã vou propor um desafio motivacional coletivo. Vamos fazer esse Dezembro terrível o mês mais produtivo do ano.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Método de estudos: considerações sobre a proposta de Rogério Sanches


O professor Rogério Sanches, meu vizinho de município, apresentou hoje no Periscope uma sugestão de método de estudos sobre a qual gostaria de fazer uma apreciação. O diálogo é sempre importante e percebo que a disposição do professor Rogério em contribuir para os estudos dos alunos é grande, então, vale à pena conversar com ele.

O pressuposto do professor Rogério é o de que fazer resumo é um método muito trabalhoso, que não funcionava para ele. Por isso, ele sugere, basicamente, o seguinte: você pega a doutrina das 8 matérias principais (civil, processo civil, penal, processo penal, constitucional, administrativo, tributário e empresarial), lê e elabora 2 a 3 perguntas por página do livro, em um caderno, anotando apenas a página do livro onde está a resposta. No dia seguinte, antes de começar o estudo, você relê as perguntas de todos os dias anteriores. Se lembrar da resposta, passa adiante. Se esquecer, você volta no livro e lê a resposta. Se você esquecer a mesma pergunta dois dias você a anota em um caderno dos erros, agora com a resposta. Basicamente é isso.

Vantagens do método: estudar por perguntas é bom. Isso é inegável. A leitura simples da matéria faz com que, às vezes, algo pareça muito fácil, não problemático e, com isso, você passa direto. Lê, acha que é bobo e vai adiante. Na hora que cai na prova, você pensa “eu tenho certeza que estudei isso, mas não sei mais”. Lascou-se. Então, estudar por perguntas é bom, sem sombra de dúvidas.

Desvantagens e críticas:

O meu primeiro problema com o método é de pressuposto. Essa ideia, ainda que interessante, não me parece menos trabalhosa que um resumo. Se você fizer um resumo como eu recomendo aqui, com, em média, 10 páginas de livro em 1 de resumo, eu acho que você vai ter tanto trabalho quanto teria para fazer essas perguntas. Isso se comprova até matematicamente: 10 páginas de livro seriam 30 perguntas. 1 folha tem 30 linhas. Assim, no meu método de resumos, você leria 10 páginas e escreveria 1, no resumo. No método do professor Rogério, você leria 10 páginas e também escreveria 1, só que em forma de perguntas. Assim, não me parece verdadeiro que o método seja menos trabalhoso.

Minha segunda consideração é que o método me parece, do modo como foi elaborado, um pouco datado. Hoje, se você quer estudar por intermédio de perguntas, há uma infinidade de bibliografia disponível – inclusive do professor Rogério - com as perguntas já prontas, o que evitaria que você tivesse o trabalho de elaborar suas próprias questões. Me parece que esse tempo seria melhor utilizado fazendo um resumo do que fazendo as perguntas.

Terceiro: no longo prazo, o mais provável é que você vá esquecendo cada vez mais perguntas, aumentando cada vez mais o caderno de erros e, com isso, vai acabar fazendo um resumo nesse caderno, em paralelo ao outro, que você já fez nas perguntas.

Quarto: se forem verdadeiros os problemas anteriores, ao fazer um caderno de perguntas, você vai ter tanto trabalho de elaboração quanto teria para formular um resumo, mas vai terminar com algo que é menos do que um resumo, pois são perguntas, sem resposta. Pense que, em um livro de 1000 páginas, você teria 3000 perguntas, o que me parece um excesso.

Quinto: esse me parece um método com a cara do direito penal, matéria da preferência do professor Rogério (convenhamos, ninguém é perfeito, heheh). Pode ser que isso funcione se você faz perguntas do tipo “Cabe tentativa em crime omissivo?” ou “o que é erro de tipo?” Agora vá elaborar 3 perguntas em uma página de um Constitucional pesado, como é necessário para o MPF, ou de um Tributário horroroso, como o que foi exigido na PFN. Aí você vai ver a coisa pegar!

Sexto: quem faz um bom resumo, não faz para estudá-lo depois. É preciso compreender melhor o paradoxo dos resumos. O melhor resumo, hipoteticamente falando, é aquele que é tão bom que você nunca mais lê, porque, para elaborá-lo, você absorveu tão bem a matéria que não precisa do resumo mais. O resumo é apenas um gatilho de memória, não um novo livro que você está escrevendo.


De todo modo, apesar das minhas discordâncias em relação ao método, é interessante ver pessoas boas se dedicando a pensar formas de estudo. O professor Rogério não propôs, em sua intervenção, nenhum método milagroso ou inflexível. Pelo contrário, deixou clara a necessidade de esforço e só isso, no mundo de hoje, já é um grande mérito. E, é claro, se bem aproveitado, o método pode ter seu valor, para complementar o estudo de algumas matérias. Contudo, eu não o adotaria, de modo geral.

Professor Rogério fica desde já convidado para postar aqui a sua resposta. Será um prazer!

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Finalmente! Estatuto do Índio, 3ª Edição e Estatuto da Igualdade Racial, 2ª Edição, 2ª Tiragem


Depois de uma longa espera e de muita cobrança por parte dos leitores - pela qual sou imensamente grato - estão disponíveis, no site da editora Juspodivm, as novas edições dos meus livros Estatuto do Índio, em sua 3ª edição, e Estatuto da Igualdade Racial e Comunidades Quilombolas, com a 2ª Tiragem da 2ª Edição. Optamos por realizar uma nova tiragem do Igualdade Racial por uma razão bastante simples: a 2ª edição se esgotou em 5 meses! Assim, não fazia sentido preparar edição nova em tão pouco prazo.

Quanto ao Estatuto do Índio, fico muito feliz de, em 4 anos, desde que foi lançada a 1ª edição, já estarmos lançando a 3ª. Considerando a especificidade do tema, eu não imaginava que a obra fosse tão bem recebida pelos estudantes e, mais recentemente, pela jurisprudência. Em dezembro de 2014, ao julgar a apelação cível 5006662-48.2012.404.7202/SC, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, sob a relatoria do Desembargador Federal Luís Alberto Aurvalle, citou por 4 vezes o Estatuto do Índio para sustentar a conclusão que foi adotada pela turma. (link para o acórdão http://s.conjur.com.br/dl/trf-mantem-sentenca-negou-dano-moral1.pdf)

Assim, agradeço efusivamente aos leitores que foram tão gentis com a obra e disponibilizo os links para quem quiser adquirir. A Juspodivm está, inclusive, com um pacote promocional do Estatuto do Índio com Temas atuais do MPF, que eu organizo, com desconto de R$ 45,00, ou seja, o Estatuto do Índio sai praticamente de graça. Seguem abaixo os links para o site da editora: 




domingo, 4 de outubro de 2015

Os dois milhões e eu


2015 é, sob vários aspectos, um ano significativo para mim. Em 20 de janeiro eu completei 10 anos de colação de grau. Em 4 de agosto, me tornei doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná, sob a orientação do professor Marinoni, algo que, dez anos antes, eu certamente não imaginaria. Em 15 de agosto, completei 10 anos de serviço público. 3 a serviço do meu querido Estado de Minas Gerais, alguns meses como juiz federal e quase 7 anos como Procurador da República.

Além de tudo isso, aconteceu uma coisa que eu também não imaginaria há cinco anos atrás: este blog atingiu os 2 milhões de acessos, em pouco mais de 5 anos de atividades. Não é pouca coisa. Se você imaginar que o atual concurso da AGU tem 26 mil candidatos, é como se cada um deles tivesse acessado a página 77 vezes. Eu jamais supunha que uma proposta tão modesta como a minha pudesse ter um alcance tão grande. Por essa razão, fiquei inspirado a escrever um texto do tipo do discurso “the state of the Union”, que os presidentes dos Estados Unidos fazem anualmente.

Este blog nasceu com uma proposta muito simples e direta: ajudar as pessoas que estão passando por aquilo que passei, ou por algumas coisas que eu não passei, mas que posso entender e, talvez, contribuir. Não é, e nunca foi, a proposta da minha vida para ter um segundo emprego ou para ganhar mais dinheiro do que o meu cargo proporciona.

Isso pode parecer difícil de entender, ou de acreditar, por duas razões: primeiro, porque não é o que usualmente acontece na vida, então, não deve ser verdade. Afinal, não existe almoço grátis. Segundo, porque o meu estilo de redação e minhas opiniões são, devo reconhecer, usualmente um pouco duras e isso passa a impressão de que eu sou um sujeito duro, que não se importa com ninguém.

Nada disso é verdade. Primeiro, realmente o blog não nasceu para ter objetivos financeiros. Há tantas formas de monetizar uma página, que você certamente já viu por aí, que poderá, por comparação, ver que essa não é a intenção aqui. Segundo, apesar do meu jeito de escrever, eu me considero uma pessoa bastante sensível. Se isso não transparece na minha redação acredito que se deva, em parte, a deficiências de estilo, mas também, em parte, à necessidade consciente, que assumi, de combater a cultura de exploração do aluno que grassa o universo dos concursos públicos atualmente, e que me deixa mesmo muito indignado.

É claro que muita gente não gosta disso. A estes eu peço desculpas. Nada do que eu escrevo tem a intenção de ofender deliberadamente a alguém ou a alguma posição que alguém acredite. O que faço é apenas expressar pontos de vista que eu considero valiosos e que, ao dizê-los, submeto ao crivo do bom senso do leitor. Afinal, como eu digo, não há fórmulas, nem mesmo as minhas, que sejam mágicas. Há coisas que funcionam ou não para você. E cada um tem que achar o seu próprio caminho.

Independentemente das pessoas a quem este blog desagradou, por uma razão ou outra, devo dizer que ele me fez muito feliz. Se não ajudou a ninguém, pelo menos, ajudou a mim. Recebi alguns milhares de e-mails e, embora muita gente reclame que não recebeu resposta, o Gmail informa que respondi 808 mensagens. Muita gente me deu a honra de mandar mensagens compartilhando a felicidade de uma tão sonhada aprovação. Outros, enviaram dúvidas tão delicadas, tão sofridas, narrando encruzilhadas em suas carreiras que certamente mudariam suas vidas, que eu respondi, por vezes, com lágrimas nos olhos. Sou grato pela confiança dessas pessoas, que se sentiram inspiradas pelo que escrevo a depositar nas mãos alguém que só conhecem por uma foto na internet seus mais íntimos e decisivos dilemas. Fui até reconhecido, em aeroportos e audiências judiciais, e alguns estudantes até me pediram para tirar fotos com eles, o que atendi, não sem alguma timidez (pode não parecer, mas eu sou um sujeito tímido).

Esse é o “estado do blog”, atualmente. Pouca coisa, devo dizer, mudou. Eu continuo não escrevendo como se isso fosse algum tipo de diário, mas, quando o faço, escrevo algo que me pareça valer o tempo que as pessoas perdem para ler (salvo, talvez, este post). É claro que muitas das minhas ideias sobre estudo já foram expostas ao longo dos anos, mas eu sempre as revisito, atualizo e republico. De vez em quando, como nos últimos dias, surgem coisas novas. Ser um paladino do descrédito não era algo que eu imaginava há alguns anos. Mas a venda de indulgências concursais me empurrou para esse lado.

Mais que isso, acredito em tudo o que escrevi quando comecei. Acho que os avanços do Direito, aos trancos e barrancos, têm tornado o Brasil um país melhor. Acho que ser aprovado em um concurso para ser servidor público não é só um prêmio, mas uma grande responsabilidade. Muitos, infelizmente, continuam no esquema “antes de passar, topo tudo. Depois que passei, não quero mais nada”. Isso é muito triste.

Enfim, é uma alegria saber que tanta gente passou a me conhecer, pelo menos um pouco, por intermédio deste canal. Tenho muito que agradecer-lhes a companhia e o interesse pelas minhas ideias. O compromisso que faço, neste marco de milhões de acessos, é o de que continuo e continuarei sendo sincero no que escrevo.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Da série não acredite em milagres: experiências irrepetíveis

Continuo, parafraseando José Simão, com a minha heroica e mesopotâmica cruzada de combater a venda de soluções mágicas na internet. Hoje quero falar sobre o golpe nº 1 do qual os candidatos são vítimas: experiências irrepetíveis.

O esquema é bem simples, quase tanto quanto um golpe do bilhete premiado. Alguém passou em um concurso cobiçado e se propõe a vender a fórmula da aprovação. Vejam bem: ele não se propõe a dar aulas ou dicar pontuais, mas a vender algum tipo de esquema que ele usou para passar que, se adquirido, permitiria o máximo de desempenho com o mínimo de esforço. Esses dias eu vi um que prometia que alguém ia ser juiz sem ler nenhum livro. Há outros que prometem que você vai estudar o edital inteiro, mais de uma vez, em umas poucas semanas. 

O ardil dessa venda está no fato de que ela é protagonizada por alguém que, de fato, alcançou o objetivo e, por isso, seria credenciado a afiançar a estratégia.

Vejam bem, eu não estou dizendo que essas pessoas fazem isso necessariamente por mal, embora acho provável que isso também ocorra. O que vendedores e compradores não percebem, nesse cenário, é que nem toda experiência de aprovação é repetível. Ser aprovado em um concurso é um evento multifatorial. Ele depende, entre outras coisas, da sua experiência de vida, do conhecimento que você acumulou durante a faculdade, da sua capacidade de raciocínio e de memorização e do rendimento que você consegue obter por hora de estudo. Todos esses fatores são profundamente variáveis entre as pessoas. Assim, ninguém pode andar nos sapatos de ninguém e o fato de você comprar os sapatos de alguém - o resumo, a técnica ou o que quer que seja - não significa que você vai chegar onde essa pessoa chegou.

Por exemplo, eu passei em todos os meus concursos públicos sem ler um livro de processo civil do início ao fim e você não me vêem aqui dizendo que ler livro de processo é inútil. O que aconteceu foi que eu tive aula de processo civil com aquele que considero o melhor professor do país (hoje aposentado): José Rubens Costa, a quem aproveito para registrar minha homenagem. Além de meu professor, ele também foi meu chefe no estágio e meu primeiro empregador. Processo civil, então, sempre foi a minha vida e eu já havia lido muito durante a faculdade. Ler sobre isso para a prova era (e foi) inútil.

Todavia, essa é uma experiência irrepetível. Se eu disser aqui que vou vender as minhas anotações de aula de processo civil, ou que alguém vai passar em concurso sem ler um livro de processo porque eu passei sem ler um livro de processo, vou estar, consciente ou inconscientemente, enganando o meu leitor. Nem todas as experiências são repetíveis. Como diria Neruda, em concursos, se faz o caminho ao caminhar. Então, se você quiser comprar alguma coisa do gênero do que eu descrevi aqui, o faça porque você considera que deve ser um material de qualidade, que vai ajudá-lo a incrementar seus próprios estudos, do seu próprio jeito, não porque isso seja uma fórmula milagrosa.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Aula gratuita de Processo Civil

Eu não sei se todos os leitores sabem, mas minha área de estudo acadêmico primária, fora as questões de índios e minorias, é o Processo Civil. Neste ano, como todos os processualistas, estou envolvido com as inovações da mudança do CPC, que são quantitativamente diversas, embora qualitativamente discutíveis. 

Nesse contexto, resolvi participar de uma espécie de concurso de professores organizado pelo curso CERS, para o qual gravei uma aula sobre o procedimento comum no novo CPC, cujo objetivo é dar um panorama geral das mudanças promovidas pelo novo código. A aula está disponível gratuitamente neste link: http://novotalento.cers.com.br/novo-talento/. Basta logar com o seu facebook. 

Caso você goste, não esqueça de dar um "curtir", que serve como se fosse o seu voto em mim.

Para os graduandos: o motivo de se fazer uma boa faculdade

Eu já disse aqui, mais de uma vez, que minha dica mais importante para um graduando que quer passar em concurso é: faça uma boa faculdade. Nada de fazer cursinho enquanto estuda. No cursinho, a matéria é sempre ministrada com muita rapidez. Se você não tem base suficiente para entendê-la, você vai ter muita dificuldade para acompanhar as aulas. Em outras palavras. O professor de cursinho é como um cara jogando tijolos para você. Se você tiver um alicerce, pode transformá-los em uma parede. Caso contrário, você só leva tijolada na cara. 

Também já disse que fazer uma boa faculdade é muito diferente de fazer uma faculdade boa. Não interessa o quão renomada seja a sua faculdade se você não estuda mais do que para tirar 6 (ou 5, ou 7, ou qualquer outra que seja a nota mínima). Contentar-se com isso é a receita para o fracasso. Ir além, querer mais é o jeito de ser um candidato de sucesso.

Além disso, ser um bom aluno na faculdade faz com que você se acostume a estudar. Muita gente acha que existe uma fórmula mágica que, depois de 5 anos de sexo, drogas (lícitas, eu espero) e rock n'roll vai transformar um aluno displicente em um estudante modelo. 

Esqueça. Estudar é exatamente como fazer exercícios físicos. Se eu me levantar hoje e resolver que vou correr 42 km só vou conseguir acabar morto. Se alguém que nunca estudou resolve que hoje vai passar a estudar 14 horas por dia, a única coisa que vai conseguir é não aproveitar o seu dia. Eu garanto que o seu grau de absorção da matéria será muito baixo e que você vai parar em 2 semanas. 

Esses dias, um leitor, Caio Souza, comprovou, com uma maravilhosa história de sucesso, a minha tese. Recebi o seguinte e-mail, que ele me autorizou a divulgar:


"Boa tarde, professor.
Este é o segundo e-mail que envio para o sr. O primeiro não foi respondido.
Mas não se preocupe: eu entendi o seu silêncio.
Àquela época, havia sido aprovado em vários testes seletivos para estagiários, sendo a maioria em primeiro lugar.
Com aquela idade (talvez 20 anos), e ainda no quinto semestre, eu busquei sua orientação para o concurso do MPF. Perceba a audácia desse jovem rsrs.
Pouco tempo depois, li no seu blog a tarefa de quem ainda cursa a graduação: fazer uma boa faculdade.
Pronto. Estava ali a orientação que eu tanto queria.
De lá pra cá, dediquei-me o quanto pude para o curso de Direito da UFPI.
O resultado, meu amigo professor, foram duas aprovações nos dois únicos concursos que fiz na vida: PGE-BA e PGE-PI.
O primeiro passei no penúltimo semestre do curso; o segundo, no último. O detalhe é que, na PGE-PI, fui aprovado em 8º lugar com 23 anos.
O resultado deste último concurso saiu há alguns dias, mas lembrei de agradecê-lo somente hoje porque recebi outra notícia: serei laureado por ocasião da colação de grau, pois obtive o maior rendimento acadêmico da turma.
"Preocupa-te em fazer uma boa faculdade", certamente, foi o silêncio mais importante da minha vida.
Estou profundamente feliz.
Obrigado, professor!

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O desafio da elaboração de resumos

Se tem uma coisa que sempre me interessou foi a dificuldade na criação e adoção de um método de fixação para os estudos. Eu me impressiono como, mesmo considerando que tenho uma boa memória, não lembro absolutamente mais nada de direito de família e sucessões, matérias que, venhamos e convenhamos, são muito chatas, mas que eu estudei bastante na faculdade. 

Há, na minha visão, 3 possíveis métodos de fixação que já abordei aqui. 

1 - A releitura dos materiais, que me parece praticamente inviável de ser adotada para concursos, dada a extensão do material;

2 - O sublinhamento dos livros e releitura apenas das partes sublinhadas. Há várias técnicas para isso, inclusive com o uso de várias cores, discutidas por alguns professores na internet. É uma técnica boa, mas com o risco de que, como sublinhar é muito fácil, você acabe terminando com uma parte substancial do livro para reler depois; 

3 - Elaborar resumos.

Eu já disse que os resumos são a técnica que mais me agrada. Embora lentos e dolorosos para elaborar, matéria resumida é matéria lembrada. Você dificilmente vai se esquecer daquilo que resumiu, porque seu cérebro precisa processar a informação e transformá-la em um escrito de sua autoria. Isso faz com que a informação seja internalizada e compreendida antes de você passar adiante. 

O lado ruim, certamente, é a demora e o trabalho que dá para elaborar o resumo. Como eu costumo valorizar mais a qualidade do que a quantidade do estudo, acho que isso é um preço interessante a se pagar. Aqui vão algumas dicas para melhorar o seu desempenho, caso a elaboração de resumos também seja a sua preferência: 

1 - Comece pelas matérias principais: resumos são demorados. Se você começar a estudar por direito empresarial, vai levar muito tempo até cobrir as matérias mais cobradas na maioria dos concursos. Se você está prestando, por exemplo, PFN, deve começar por direito tributário, assim, poderá cobrir o maior número de questões no menor tempo. 

2 - Pense bem se vale à pena: resumir é doloroso. Será que é válido resumir direito agrário? Provavelmente não. Mas essa é uma decisão que depende do seu grau de fixação com outros métodos de estudo. Se ele for baixo, então o resumo será válido.

3 - Sublinhe primeiro, resuma depois: com o tempo, eu cheguei à conclusão de que se você lê um segmento inteiro do livro antes de fazer o resumo, a compreensão global da matéria facilita a sua percepção de quais são os pontos principais, o que reduz o tamanho e a dificuldade na elaboração do resumo. Assim, o ideal é que você leia um capítulo, ou alguns subitens de um capítulo, sublinhando o que leu, para depois elaborar o resumo, apenas com base no sublinhado. Pode parecer um retrabalho, mas não é. Você vai escrever menos.

4 - Seja sucinto: o pior resumo é o resumo gigante. Se você não consegue uma média de, pelo menos, 1 página de resumo para 10 de texto, seu resumo vai ficar grande demais. Lembre-se de que você não está escrevendo um livro. O resumo só tem que fazer sentido para você mesmo. Não escreva nada que você acha que se lembraria de qualquer jeito, seja em razão de sua experiência prévia, do conhecimento acumulado ou porque você considera aquela informação óbvia. Essa é a dica mais difícil e só com o tempo você vai conseguir colocá-la em prática com mais desenvoltura.

5 - Escreva à mão: essa dica é polêmica e eu já a havia dado aqui no blog há algum tempo. Eu sempre achei que escrever à mão é melhor que fazer resumos digitados. Tenho a impressão de que o movimento das mãos para desenhar as letras é positivo para ativar o cérebro, mais do que a digitação. Pois bem, recentemente, pesquisadores da Universidade de Princeton concluíram que quem escreve à mão aprende mais e melhor. Vejam só:

"pesquisa de Pam Mueller, da Universidade de Princeton (EUA), e Daniel Oppenheimer, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), mostra que quem toma nota à mão aprende mais e melhor. Para chegar a esse resultado, eles dividiram estudantes em dois grupos: os que anotavam à mão e os que o faziam com laptops. Ao final, os dois grupos – que assistiram a aulas sobre biologia, religião, bioquímica, matemática, economia etc. – foram julgados nos quesitos memória, entendimento, capacidade de síntese e de generalização.
Os voluntários que anotaram à mão – apesar de terem perdido no que diz respeito à quantidade de dados registrada – acabaram se saindo melhor nos itens acima. Os resultados estão em Psychological Science. E o início do título é criativo: ‘A caneta é mais poderosa que o teclado’.
Fazer sem pensar
Por quê? Mueller e Oppenheimer acreditam que escrever à mão requer um processo cognitivo distinto do envolvido em teclar. Segundo eles, quem anota manualmente tem que ouvir, digerir e resumir a informação, pois não se tem a velocidade obtida ao se datilografar. E assim se captura a essência do conteúdo, obrigando o cérebro a se esforçar, o que aumentaria a compreensão e a retenção dos dados.
Ao se teclar, o cérebro não processaria o significado da informação, pois a velocidade da datilografia não deixaria muito tempo para se elucubrar sobre o conteúdo daquilo que se anota. Ou seja, teclar é algo, digamos, robotizado. Ou, como se diz popularmente, ‘fazer sem pensar’, ‘ligar no automático". 

Ainda desconfiado? Pesquisadores da Noruega chegaram à mesma conclusão, conforme texto disponível em http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,escrever-a-mao-melhora-o-processo-de-aprendizagem-aponta-estudo,668363

Então, meus caros, o negócio é deixar o computador para lá, aceitar que o resumo vai ficar um pouquinho zoneado, mas dar preferência ao bom e velho manuscrito.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Convite

Depois de um longo ciclo de quatro anos, chegou a hora de provar que não sou só mais um rostinho bonito no mundo dos concursos (se você não entende essa referência, provavelmente é bem mais jovem do que eu). 

No dia 4 de agosto, próxima terça-feira, a partir das 14 horas, defenderei, perante o programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná, minha tese de doutorado, intitulada "O devido processo legal coletivo: representação, participação e efetividade da tutela jurisdicional". A banca será formada pelos professores Luiz Guilherme Marinoni, que é o orientador do trabalho, Sérgio Cruz Arenhart, Clèmerson Merlin Clève, Fredie Didier Jr. e Rodrigo Mazzei. 

Ficarei muito feliz em compartilhar esse momento com todos vocês.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Lançamento: Preparação Integrada para a prova oral

Como muitos sabem, desde 2011, venho me dedicando à atividade de preparar alunos para as provas orais de concursos públicos. É uma área de que eu tenho gostado muito e tenho tido a felicidade de ser bem-sucedido. Nesses últimos anos, passaram pelo meu curso mais de 300 alunos, hoje em exercício nos cargos mais variados, tais como Juiz Federal de três das cinco Regiões, Promotor de Justiça e Juiz de Direito de diversos estados da federação, Procurador da Fazenda Nacional, Advogado da União, Defensor Público Federal, e Delegado Federal, Auditor do Tribunal de Contas e cartórios extrajudiciais. Particularmente, em relação aos Procuradores da República dos últimos concursos, a grande maioria dos candidatos foi meu aluno.

Apesar do feedback muito positivo dos alunos, que sempre me alegrou, eu estava querendo, há algum tempo, dar uma incrementada no curso. Graças ao professor Renato Nigro, tive a oportunidade de conhecer duas pessoas fantásticas, que permitiram que eu atingisse esse objetivo. A primeira é a Ana Lia Sampaio, diretora do curso Ductor, o preparatório mais tradicional de Campinas (http://www.cursoductor.com.br). A segunda é a Professora Doutora Ana Lúcia Spina, simplesmente uma das fonoaudiólogas mais capacitadas do país a se dedicar à preparação de candidatos para a prova oral. O curriculum dela fala por si:

Ana Lúcia Spina: Fonoaudióloga, Doutora em Ciências Médicas pela Unicamp. Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. Autora do Livro “Como Falar bem em Público”, 4ª edição, juntamente com Rogério Sanches e William Douglas. Consultora e Coach de Desempenho Comunicativo. Orientou cerca de 1.000 candidatos em “Competência de Comunicação” para fase oral de Concursos Públicos”.

Assim, estamos, juntos, lançando o curso Preparação Integrada para a Fase Oral, com aproximadamente 10 horas de duração, comigo e com a Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia, no curso Ductor, em Campinas. O curso será sempre na sexta-feira à noite e no sábado, durante todo o dia, para facilitar o deslocamento dos alunos que moram em outras localidades. Campinas, atualmente, oferece uma grande facilidade de acesso, tanto por intermédio dos aeroportos de São Paulo, quanto por Viracopos.

O curso será composto por uma parte expositiva, tanto minha quanto da Ana Lúcia, eu focado na parte jurídica envolvida na prova e ela, na parte de competência comunicativa. No final, nós, em conjunto, faremos a arguição simulada e avaliação do candidato, o que, tenho certeza, acrescentará bastante para a preparação dos alunos.

Abaixo está o programa do curso. Ele vai funcionar de modo permanente, mas a primeira turma, especialmente dedicada aos alunos do MPF, está marcada para os dias 21 e 22 de agosto. O contato do curso está na imagem abaixo e o programa é o seguinte:

Professor Edilson


1. Estou na oral, e agora?
2. O que é verdadeiramente avaliado em uma prova oral?
3. Como estudar para a prova oral
3.1. O que estudar faltando 2-3 meses.
3.2. O que estudar faltando 1 mês.
3.3. O que estudar na última semana
3.4. Estudar na véspera?
4. Como se preparar psicologicamente para a prova oral: da aprovação à espera no local de prova
5. Como agir no local de prova.
6. Quem são os examinadores? Qual o perfil das perguntas?
7. Formalidades da prova: traje, forma de se assentar, de se dirigir ao examinador, de controlar o microfone, de olhar, de gesticular, dentre outros.
8. Como formular suas respostas:
8.1. O que fazer se você sabe
8.2. O que fazer se você não sabe ou tem dúvidas
8.3. O que fazer se você não sabe nada

Professora Ana Lúcia

1. A forma de comunicar o conteúdo deve ser tão nobre quanto o conteúdo abordado.
2. As expressões comunicativas devem traduzir as intenções de comunicação: o medo e a ansiedade, naturais de momentos desafiadores, devem agir sob comando do candidato.
3. Competência emocional: habilidade de autopercepção, desenvolvimento de empatia e identificação das sensações transmitidas durante arguição.
4. As atitudes comunicativas do candidato não devem seguir um “protocolo” e sim explorar a excelência individual na comunicação.
5. O candidato não precisa “parecer-ser” competente na comunicação, ele pode de fato “ser” competente por meio do reconhecimento de suas habilidades.
6. Tudo comunica: consciência dos detalhes individuais de comunicação que revelam a maturidade na exposição do conteúdo.
7. Aplicação de ferramentas de autopercepção para explorar a individualidade comunicativa e fazer possíveis ajustes comunicativos.

Ambos os professores:

Avaliação individual de cada candidato, com feedback específico, tanto acerca do conteúdo jurídico, quanto das competências comunicativas do candidato. 
 

Eu tenho muito orgulho de encontrar diversos alunos meus em audiências e reuniões pelo Brasil afora. O curso para a prova oral sempre foi algo que fiz com muita dedicação e tenho certeza de que esse passo vai torná-lo muito melhor. 
 
 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Concurso do MPF: hora de recorrer

Saiu o esperado resultado da segunda etapa do MPF. Tal como na primeira etapa, o concurso se consolida como um dos mais difíceis dos últimos tempos. Além da nota de corte mínima, o número de aprovados para a oral é o mais baixo desde o 23º Concurso. 

Minha orientação: recorram. O Conselho Superior do MPF já aprovou a lotação de 70 vagas para o concurso em andamento. Um baixo número de aprovados significa ter que cancelar parte dessa decisão, ainda mais considerando a possibilidade de reprovação na oral e de que, eventualmente, candidatos não reúnam requisitos para posse imediata. 

Por essa razão, eu acredito que há boas possibilidades de provimento de recursos, sobretudo para pessoas que ficaram por pouco. 

Eu sei que é muito chato recorrer. Confesso que nunca recorri das minhas notas, em nenhum concurso que fiz. Mas esse é o momento. Especialmente se você ficou próximo, não deixe da fazê-lo. Se alguém precisar de ajuda, pode mandar o recurso pelo e-mail de contato que eu faço o possível para ler com a maior agilidade. 

Aos aprovados, meus sinceros parabéns! Vocês deram mais um passo decisivo para ingressar na carreira que é, certamente, a melhor do país. Amanhã farei um post específico sobre a preparação para a prova oral. Por hoje, comemorem. Vocês merecem.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Da série não acredite em milagres: Mnemônicos, musiquinhas e outras bobeiras

Concursos exigem uma grande capacidade de memorização. Isso deu oportunidade para que os professores e cursos vendam todo tipo de técnica para supostamente ajudar o candidato a decorar conceitos, enumerações, jurisprudência etc. 

Devo confessar que tenho horror a esse tipo de coisa e não é só porque me lembram cursinho pré-vestibular e eu me recuso a acreditar que alguém vai ser um bom servidor público imitando o que o professor Pachecão fazia para ensinar os alunos a decorar conceitos de física. Meu horror decorre do fato de que muitas dessas técnicas são péssimas. Elas exigem que você decore tanta coisa – a música ou o método utilizado para criar o mnemônico, ou uma frase completamente sem sentido – que é mais fácil decorar logo o que você queria originalmente. 

Bons mnemônicos são os que têm sentido para você. Se você conseguir criar uma frase que faça sentido pessoal e, ao mesmo tempo, represente o que você quer decorar, vai se dar bem. Fora isso, pare de perder tempo. Eu já vi muita gente que conseguiu lembrar o mnemônico e esqueceu o que ele significava!

A melhor forma de decorar qualquer coisa é com familiaridade e repetição. Se você lê e aplica um conceito várias vezes, vai absorvê-lo naturalmente, sem precisar ficar cantando. Eu sei os prazos processuais do CPC porque li e apliquei várias vezes, não porque tenha feito alguma tabela. Por outro lado, os prazos do CPP, com o qual eu trabalho menos, me são mais estranhos. 

Enfim, não acredite em milagres. Se você está gastando dinheiro para aprender umas musiquinhas, talvez você deva se candidatar a algum show de calouros. Pode ser engraçado, curioso, mas ninguém vai passar em concurso só por causa disso.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Da série não acredite em milagres: indicação de bibliografia


Uma das perguntas que mais recebo no e-mail do blog – aliás, podem continuar mandando mensagens. Eu respondo na medida do possível, mas leio todas – é sobre indicações de bibliografia.

Sei que essa é uma preocupação pertinente, mas eu sinto que, em alguns casos, talvez inconscientemente, as pessoas acreditam que se eu indicar um livro, é porque aquela obra é muito superior a todas as outras e quem a ler vai ter uma vantagem nas provas.

Isso faz parte da crença atual de que existem milagres, atalhos, bizus ou quaisquer outras expressões que vocês vejam por aí, geralmente com o objetivo de vender alguma coisa. Infelizmente, nada disso existe, em nenhum aspecto da preparação para concursos. O problema é que, como as pessoas estão fragilizadas nesse momento, elas tendem a acreditar naqueles que dizem o que elas querem ouvir. Se alguém diz que escreveu um livro “bem fantástico” e repete isso inúmeras vezes, o aluno pensa: “por que não? Vou comprar”. E assim o mundo continua girando.

Vou exemplificar minha opinião sobre bibliografia com direito administrativo. Se você lê um autor clássico, consagrado (menos Hely, que morreu), você vai conseguir extrair, ao final, o mesmo conhecimento de todos eles. É relativamente irrelevante se você escolhe Maria Sylvia, Celso Antônio ou Carvalho Filho. Eles vão dizer a mesma coisa, apenas de modo diferente, tanto em termos de linguagem, quanto de organização ou argumentos. A questão é que, como ninguém decora literalmente tudo que lê em um livro, o que você extrai de conhecimento, ao final, é a mesma coisa. Maria Sylvia é mais didática e, por isso, é o livro que eu recomendo para quem tem menos base. Carvalho Filho tem mais referências jurisprudenciais e se preocupa em explicitar posições divergentes, o que pode ser interessante para quem gosta mais da matéria – apesar da atualização da última edição deixar bastante a desejar. Celso Antônio é o papa, mas ele explica o que quer e ignora o que não gosta. Então, você precisa mesmo de uma base considerável para conseguir acompanhar o raciocínio.

E quanto aos autores “novatos”? Eu os classifico em três categorias. A primeira são os que, embora voltados para concursos - a maioria deles, uma vez que esse é o mercado editorial mais forte -   querem ter posições próprias para fazer seu próprio nome. Esses são os piores. Inventam nomes “novos”, classificações “diferentes”, tudo para tentar ser citados por um examinador e fazer a vida como o novo cara do direito administrativo, ou qualquer outro ramo. Um show de vaidades e inutilidades. Fuja desses caras. Você não tem nada a ganhar com eles.

A segunda categoria é formada pelos autores que sinceramente escrevem para concurso. Incluem questões em seus livros, tentam privilegiar linguagem mais simples e didática e cobrir temas novos. Esses livros são bons, especialmente se a base que você tem é pequena. O problema é que o preço da didática é a redução do aprofundamento. Se você estiver buscando uma preparação mais profunda, eles podem ser insuficientes. Aqueles que escrevem livros mais profundos, com essa proposta, são tão grandes ou maiores que os livros clássicos. Depois, em concursos mais pesados, como magistratura e MP, é certo que esse não é o livro que o examinador lê, então, se ele acertar a questão, vai ser pura coincidência.

A terceira categoria é a dos livros super resumidos, estilo sinopse. É claro que, quem lê esse tipo de livro tem que saber o que está fazendo. Eles são superficiais. Mas se você está fazendo um concurso que praticamente só cobra lei seca, é pouco provável que ler as mais de 1200 páginas do Carvalho Filho vá ter um bom custo benefício. Não que vá ser inútil, entenda bem. Quem sabe bem uma matéria não tem necessariamente que decorar lei. A lei tem uma lógica. Se você a compreende, poderá responder várias questões sem saber o texto de cor. Mas o custo será muito alto. Se as questões são superficiais, é mais interessante ter uma noção geral da matéria e ler a lei do que perder tempo com uma obra tão aprofundada.

Entendido isso, a mensagem é a seguinte: todo livro, bem lido, é um bom livro. A questão é você saber se aquele livro é compatível com a profundidade da cobrança do concurso que você almeja e com o conhecimento prévio que você tem sobre a matéria. Dicas de bibliografia, portanto, são interessantes, mas não fiquem neuróticos por causa delas. Se você ler um livro com atenção, efetivamente compreendendo o que o autor está explicando e utilizando um método de fixação, ele resolverá o seu problema. Errada não é a escolha do livro. Errado é ler sem atenção ou mesmo não ler. Em concursos, não existem milagres.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Reinaugurando o blog: 10 passos (não tão simples) para o sucesso em concursos

Aqueles que me dão a honra de acompanhar este blog há alguns anos sabem que eu não sou um blogueiro padrão. Não posto todo dia, não tenho opiniões fechadas e definitivas sobre tudo, não comento todos os assuntos do momento, não tiro selfies de mim mesmo (imagine só!) e sumo de vez em quando. Acho que quem passa por aqui há mais tempo está acostumado com isso.

Esse último sumiço, no entanto, por ter sido mais prolongado, merece explicação. Depois que retornei dos Estados Unidos, eu fiquei, é claro, absolutamente transtornado para terminar a tese. Trabalhando no MPF, dando aulas no Mackenzie, revisando o Estatuto da Igualdade Racial, que já saiu, e o Estatuto do Índio, que agora vem aí mesmo. Então, infelizmente, não é nem que eu não tivesse tempo, eu não tinha higidez mental para escrever.

Mas, tudo passou, e agora estou de volta e gostaria de conversar um pouco sobre o que vivi nesse período. Escrever uma tese de doutorado tem várias similaridades com o estudo para concurso público. Em primeiro lugar, é uma empreitada de longo prazo. A minha começou há exatamente quatro anos. Segundo, não há garantia de sucesso. Você pode se esforçar muito e terminar com uma tese medíocre ou mediana. Para quem só quer o título, tudo bem, mas para quem quer fazer alguma diferença para o estudo do tema, isso é muito frustrante. Terceiro, a autocobrança é incessante. Todos os momentos de folga são devotados ao tema. Eu tive inúmeras insônias relacionadas ao trabalho e, quando dormi, sonhei várias vezes com ele.

O estudo para concursos tem um agravante a mais: ele não tem prazo para acabar. Como, então, lidar com isso? Eu ofereceria algumas sugestões, que são, é certo, mais fáceis de escrever que de implementar:

1 – Fique frio: ao contrário do que eventualmente ocorre na graduação, eu nunca vi um candidato que ganhou um único ponto porque desatou a chorar para o examinador. Você precisa ser pragmático com o que você quer, com o que você está disposto a sacrificar para chegar lá e com as suas possibilidades pessoais. Se você só tem duas horas por dia para estudar, estude duas horas. Sem neura. Mas não espere ser Procurador da República em 1 ano. Não vai rolar.

2 – Acabou, acabou: por mais difícil que pareça, você precisa ter uma vida para além do direito, especialmente se você tem familiares (cônjuges, em especial), que também estão estudando. A história do “só se fala de concurso nessa casa” contribui para aumentar a tensão e não para otimizar o estudo.

3 – Estabeleça metas de curto, médio e longo prazo, tanto de estudo, quanto de desempenho: esse é o conselho mais batido, mas ele não é fácil de seguir. Você precisa saber o quanto está evoluindo. O que você quer ter estudado daqui a um mês? E daqui a seis meses? E daqui a um ano? Quando você acredita, realisticamente, que você deveria estar pelo menos nas etapas mais avançadas de um concurso? Ao ter uma noção mais firme disso, você poderá monitorar o seu progresso e verificar onde estão os problemas.

4 – Supra suas deficiências: sim, primeira etapa cai quase que só lei. Ok, mas se você não sabe nada de licitações, será que adianta ler a 8.666/93 seca? Eu diria que não. Você não vai entender quase nada e, com isso, memorizar se tornará um desafio maior. Você precisa entender pelo menos um pouco da matéria para depois mergulhar na lei seca. E qual lei estudar? Priorize, sempre, aquilo que você sabe menos. Entenda bem: todo concurso tem questões fáceis, médias e difíceis em cada matéria. Se você estudar pelo menos um pouco de cada coisa, poderá acertar um número substancial de questões, mesmo que você efetivamente não domine a matéria. O maior erro que vejo em preparação são pessoas se focando muito em uma coisa só, porque gostam dela, ou porque acham importante para a carreira. Não se engane: na maioria dos concursos, a relevância das matérias que são cotidianas para a atuação do profissional é menor do que deveria ser. O MPF é uma prova disso.

5 – Faça questões: você precisa responder, literalmente, milhares de questões. O aprendizado do texto corrente é muito diferente do que decorre da leitura plana do livro. Você perceberá aspectos que nem imaginava que não tinha entendido.

6 – Tire férias: a não ser que o seu tempo seja muito limitado, ou que você esteja nas etapas finais do concurso, você precisa interromper os estudos em algum momento. Não precisa ser férias de 30 dias. Podem ser só 5. Mas você precisa, em algum momento, parar. Isso colabora até mesmo para a absorção do conhecimento estudado.

7 – Pluralize: estudar por uma única fonte – só ler ou só assistir aula, ou só resolver questões – é geralmente muito cansativo e o rendimento é pequeno. Alternar entre fontes de estudo variadas é a melhor maneira de aprender de forma mais concreta.

8 – Contextualize: a leitura de teoria é pobre se você não sabe como aquilo é cobrado na prova, ou como é operado na prática. Depois de ler ou assistir aula sobre um conteúdo, é importante ler algumas decisões judiciais e resolver algumas questões sobre ele. A prática favorece a memorização.

9 – Diagnostique: você precisa saber o que está errado com você mesmo. O que está faltando? Qualidade no estudo? Mais tempo disponível? Mais regularidade (ao invés de estudar dez horas em um dia e nada nos dias seguintes, não seria melhor estudar 2 horas por dia?)? Mais habilidade para resolver questões de múltipla escolha? Você precisa desenvolver técnicas para identificar o que está errado e, a partir daí, pensar em correções.

10 – Não acredite em milagres. Há pessoas que passam em pouco tempo, há pessoas que levam anos para passar. Isso depende de várias condições pessoais, tais como capacidade de memorização e apreensão de informações, tempo disponível, conhecimento prévio, qualidade do estudo durante a faculdade.

É isso. Como eu disse, mais fácil de dizer do que de fazer. O que está aqui é uma síntese, mas tenho inúmeros outros posts pretéritos sobre cada um desses assuntos. Agora que estou de volta, vamos colocar o assunto em dia.