segunda-feira, 30 de maio de 2011

Resumo alheio (ou como compartilhar uma escova de dentes)

Seguindo o post anterior, temos a questão dos resumos alheios, ou seja: 1) resumo do amigo; 2) resumo da internet; 3) xerox de caderno de aula de cursinho; 4) grupo de resumos.

Como já adiantei, resumo é como escova de dentes, ou como qualquer outra coisa muito pessoal, e pouco adequada à classificação indicativa deste blog, que você prefira usar como exemplo daquilo que você não gosta de dividir. Em um resumo, você escreve para si, não para um leitor externo. É isso, aliás, que diferencia um resumo de um livro, e é por isso que ninguém sai por aí publicando resumos.

Mas, emergências existem, há pouco tempo para estudar tudo e uma solução é, sim, o resumo alheio. Em geral, a melhor opção é o resumo de um amigo, principalmente porque você tem condições de avaliar o grau de confiabilidade do resumo, já que conhece o amigo. Mesmo assim, resumo alheio deve ser sempre lido com cautela. Afinal, às vezes a pessoa entendeu mal. O mesmo vale para o xerox de cardeno. Muita gente falta de aula em cursinho e depois quer tirar xerox de caderno do colega. É o famoso chupa-cabra. Já fiz isso, muita gente faz, mas minha experiência demonstra que costuma ser um esforço mais de apaziguamento da consciência pela aula matada (ou morta) que de efetivo aprendizado. Anotações são coisas muito pessoais e, na correria de ouvir e anotar, o risco do colega anotar alguma coisa errada, ou de modo incompleto, é considerável. Além disso, anotações de aula costumam ser fragmentárias, de modo que é difícil para quem não as escreveu entender. O ganho, na minha opinião, é muito pequeno.

A última questão são os resumos em grupo, que são de 2 tipos: entre amigos ou entre estranhos. Já participei dos 2, e posso dizer que o primeiro funciona imensuravelmente melhor. Esses tipos de resumos são muito usados nas provas orais, quando se tem que estudar muita coisa em pouco tempo. Na minha prova oral da magistratura, o pequeno grupo que passou já tinha ficado amigo, de modo que reunimos poucas pessoas (uns 10) e dividimos os pontos do programa para fazer resumo. Como havia sorteio de ponto, pude estudar o ponto sorteado pelo resumo. Foi ótimo, os resumos estavam bons, pois todos se empenharam em fazer com responsabilidade. Havia um comprometimento pessoal. Acho que esse é o grande valor do resumo alheio: estudar coisas rápidas, de véspera, que você não teria condições de fazer de outro jeito. Nesse caso, acho excelente.

Por outro lado, na prova oral do MPF, participei de um grupo de resumos no yahoo. Foi um desastre. Apenas para que vocês tenham noção, o resumo de processo civil tinha mais de 500 páginas. Eram muitas pessoas elaborando, poucos se conheciam, enfim, faltou um critério geral de orientação. No final, a única parte que eu li foi a que eu mesmo fiz.

Assim, é possível utilizar, com moderação, resumos alheios, em especial nas vésperas de prova, em que a ampliação do conhecimento é mais importante do que o grau de fixação. Só não se iluda: o grau de fixação de um resumo que você não elaborou é muito menor do que seu próprio resumo. Tome como uma solução nas emergências. Se você estuda apenas ou predominantemente por resumos elaborados por outras pessoas, sem um método de fixação próprio, acho que está correndo um grande risco de fixar pouco e ainda aprender errado. Eu não iria por esse caminho.

Quando ler os benditos resumos?

Recebi essa bem-humorada pergunta de um leitor outro dia. De fato, é um assunto sobre o qual eu não havia tratado especificamente. Já disse que o melhor resumo é o inútil, que você fixa tão bem enquanto elabora que sequer precisa ler depois. É claro que essa seria a ideia platônica de um resumo. Na realidade, sempre será necessário ler.

Bom, e quando ler? Se você vai fazer a prova do MPF, daqui a menos de um mês, a resposta é, agora! A grande vantagem dos resumos é que, como são elaborados por você mesmo, a leitura é muito rápida (é por isso que não gosto desses resumos de outras pessoas. Resumo é como escova de dentes), de modo que você pode ler nas proximidades da prova, na véspera ou até mesmo no dia.

O número de vezes que você terá que ler um resumo é inversamente proporcional a sua capacidade de memorização. Como regra geral, eu assumiria o seguinte: a partir de um mês antes de cada prova que você for fazer, leia todos os seus resumos uma vez por semana. Veja que isso não é tão difícil quanto parece. Na medida em que o tempo passa, você terá mais resumos para ler, mas também os conhecerá cada vez melhor, de modo que a leitura será cada vez mais rápido. Você começará a ler o início das frases e já saberá o que está escrito no final.

Digo logo que sou a favor do estudo de última hora. Eu sempre estudei na véspera e, algumas vezes, enquanto esperava antes da prova começar (como bom mineiro, que não perde o trem, sempre gostei de chegar cedo). Eu levava algum resumo para ler enquanto esperava. Isso ajuda a manter a concentração, para mim, mas sei que tem gente que não gosta. É muito melhor que levar um livro. Com o tempo, o resumo já fica seu amigo.

A mesma recomendação para a leitura de resumos vale para quem sublinha livros. Não adianta grifar sem reler. Minha dica seria a mesma: a partir de um mês antes da prova, releia, uma vez por semana, todos os livros que você sublinhou. Repare, aqui, para alegria de quem sofreu fazendo resumos, que a vingança veio a cavalo: ler todos os seus resumos uma vez por semana é moleza. Ler tudo o que você sublinhou em livros será como ser ator convidado de Jogos Mortais V!

Mas, se você já está na lista dos clientes do psicopata, pode tentar escapar da autópsia dividindo a leitura ao longo das 4 semanas. Separe uma tarde por semana para releituras. Assim, até o dia da prova você já terá conseguido reler tudo o que sublinhou (ou pelo menos boa parte), e também já terá aprendido o valor de vários provérbios da sabedoria popular, tais como "o caminho largo leva ao inferno", "aqui se faz, aqui se paga", "rapadura é doce, mas é dura", dentre outros menos educados.

De todo modo, não se engane: se você subinha livros, TEM que reler. Ou então leia simplesmente, e pare de perder tempo sublinhando (principalmente as mulheres, com suas canetas destaca-texto multicoloridas).

Também não acho que valha reler resumos ou livros grifados muito antes da prova. A memorização dos detalhes, para a maioria, não dura tanto tempo.

sábado, 28 de maio de 2011

Um post comemorativo

Caros amigos,

aproveitando o final de semana, gostaria de compartilhar com vocês uma alegria: o blog atingiu os 150 mil acessos; mais de 100 seguidores no blog e mais de 300 no twitter!

Claro que estou muito longe dos profissionais do concurso. Nem tenho essa pretensão. Sou Procurador da República, trabalho muito (passar é só o começo) e sou bastante zeloso de minha atividade. Quando comecei o blog, não tinha nem a ideia de chegar ao ponto que cheguei. Tentei apenas reunir em um lugar as respostas para os inúmeros alunos, amigos e colegas que me pediam dicas sobre minha trajetória em concursos públicos.

O blog não tem, nem nunca teve, qualquer propósito comercial ou patrocínio. Indico os livros que acho bons, critico quem acho que merece críticas, posto dicas que acho que funcionam e não as fórmulas mágicas que muitos querem vender por aí (o charlatanismo, aliás, é um fenômeno antigo na história da humanidade). Ninguém precisa gostar, nem mesmo concordar comigo. Minha pretensão era, e continua sendo, parecida com a do Charlie Brown: fazer um blog sincero (quem se lembra do canteiro de aboboras mais sincero?).

Acho que posso tomar esse inesperado sucesso como um sinal de que vocês, meus caros leitores, estão gostando do que escrevo. Recebi muitos e-mails (e continuo tentando responder todos). Agradeço profundamente as pessoas que dividiram comigo suas histórias pessoais, suas angústias, e se dispuseram a ouvir meus conselhos. Sei como é sofrida essa fase, mas tenho certeza de que o esforço de todos será recompensado.

Enfim, obrigado pela amizade e pela confiança. Faço o maior esforço possível para compartilhar tudo, tudo o que considero possa ser útil para que todos e cada um dos leitores que acessa esse blog tenham a oportunidade de viver a alegria que vivi. Comemoraremos juntos!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Bibliografia: uma conclusão

Meus caros leitores, peço, em primeiro lugar, desculpas pelo tempo em que estive ausente. Saí em viagem de férias (o que foi muito bom) e, posteriormente, me engajei em processo seletivo para programa de doutorado (o que não foi tão bom). Aliás, apliquei nessas provas tudo o que venho defendendo aqui no blog: fiz resumos, priorizei as matérias que sabia menos, mas também cometi erros, como qualquer concurseiro: comecei a estudar muito tarde (quem mandou viajar?), avaliei mal a prova e deixei de ler as obras mais recentes dos examinadores. Pensei que enfrentaria um teste mais filosófico, e ele foi bem prático. Bem, ainda não tenho resultados, mas, de todo modo, foi um processo valioso. Aprendi muito. Mesmo que seja reprovado. Isso é uma vantagem de todo concurso.

Bem, o importante é que estou de volta e agora vamos juntos até o dia da prova do MPF, daqui um mês, com posts diários. Aliás, quem fizer a prova em BH, pode ser que me encontre fiscalizando alguma das salas.
Postei já muitas dicas sobre bibliografia. Esse é um assunto quase infinito, e não quero transformar o blog em uma lista sem sentido de livros, como as que estão no Correioweb. O que me parece mais relevante de tudo, depois de tantas postagens de bibliografia é: não existe livro de ouro. Todo livro tem algo de bom e algo de ruim. Aprofunda mais em alguma coisa e menos em outra. Há duas coisas importantes para se tirar disso: 1) não caia na neurose de querer ler tudo. Você não vai dar conta; 2) o importante mesmo não são os livros que você lê, mas o que você tira deles, ou seja, seu método de fixação. Já abordei à exaustão esse tema aqui no blog, e amanhã lançarei mais um post sobre o assunto. O grande problema que vejo na maior parte das pessoas que presta concurso não é falta de estudo. É falta de conseguir reter aquilo que estuda. Se você ler um manual de penal e aprendê-lo bem, é melhor que ler 3 e esquecer tudo em 1 mês.

Sobre a primeira dica: é muito importante criar uma base de raciocínio. Hoje discutia isso com meus diletos assessores da Procuradoria da República em Governador Valadares: é preciso saber para que lado atirar. Partindo do pressuposto de que você nunca saberá tudo, é preciso saber responder coisas que você não sabe. E isso vai sair da base jurídica que você vai construindo com seus estudos (é por isso que insisto tanto, para quem ainda está na graduação: leve seu curso a sério!)

Um exemplo prático: minha dissertação de Constitucional, do polêmico agora ex-examinador Zé Adércio, foi sobre direito à verdade. Eu nunca tinha ouvido falar disso até abrir a prova. Mas havia alguns pontos para serem abordados que davam uma pista do que era. Como a dissertação vale 40, e é preciso fazer pelo menos 50 em 100, ou eu respondia ou estava morto. Respondi, do jeito que deu. Resultado: tirei 18 em 40. Não é uma grande nota, concordo. Mas para quem ia tirar zero, não é nada mal. E esses 18 pontos me salvaram da reprovção.
Tente treinar isso: pegue questões de concursos anteriores e responda da melhor forma possível, mesmo que você não saiba.

P.S.: nesse final de semana responderei a todos os e-mails enviados, aguardem!