terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Curso para a prova oral da PFN

Meus amigos, amanhã publicarei um post sobre a escolha do foco de estudos. Um assunto que me parece muito importante. Hoje, entretanto, peço licença para mandar um recado aos aprovados para a prova oral da PFN. 

Neste final de semana conduzi a primeira turma do curso para a prova oral da PFN, em São Paulo. Essa é uma prova oral complicada. Em primeiro lugar, inédita para a carreira. Em segundo lugar, com muitos candidatos. Segundo me disseram os alunos, a perspectiva é que passem de 400. Em terceiro lugar, a diferença de pontuação entre os candidatos é relativamente pequena, de modo que, mesmo que a PFN resolva aprovar muita gente, uma boa nota facilmente significar 100 posições a mais. Há muito em jogo nesse exame. 

Por fim, para terminar as complicações, o carnaval está no meio da convocação para a oral e sua realização, segundo o cronograma original. Por isso, há pouco tempo disponível mesmo para a oferta de cursos. 

Assim, estamos organizando, juntamente com o Verbo Jurídico, novas turmas para a prova oral da PFN. Como meu limite é de 15 alunos por turma, é certo que não poderei atender a todos os interessados. Então, quem tiver interesse, peço entrar em contato com o Daniel (Daniel@verbojurídico.com.br ou 51.81423797) para que possamos definir as datas. 

O programa permanece o mesmo, que vem sendo bastante apreciado pelos alunos:

Manhã: exposição geral acerca da prova oral.

1 – O que é verdadeiramente avaliado em uma prova oral?

2 – Por que não devemos subestimar uma prova oral. Os riscos.

3 – O que estudar até o dia da prova

4 – Como se preparar psicologicamente para a prova oral

4.1 Chegar a Brasília com antecedência?

4.2 O sono na noite anterior

4.3 Medicamentos

4.4 Aguardando sua vez

5 – Como se vestir para a prova oral

6 – Preparação: para além do conhecimento. As três regras de ouro de uma prova oral: treino, demonstração de conhecimento e o esquecimento do passado.

7 – Como são as perguntas em uma prova oral.

8 – Como se portar no momento do exame: forma de se assentar (posição das pernas e da cadeira), de se dirigir ao examinador, de controlar o microfone, para onde olhar, como lidar com o paletó.

9 – Gestos durante a prova oral e os vícios gestuais.

10 – Colocação da voz: o problema dos vícios de linguagem o do sotaque. Como limpar a voz antes da prova. Os problemas extras dos fumantes. Tomar água durante o exame?

11. Respiração.

10 – Como formular suas respostas:

10.1 Como são as perguntas de uma prova oral.

10.2 O que fazer se você sabe

10.3 O que fazer se você sabe parcialmente

10.4 O que fazer se você não sabe nada

10.5 Como dançar conforme a música do examinador e como fazer sua própria música. Como conduzir a sua prova sem desrespeitar a autoridade do examinador. 

11 – Esclarecimento de dúvidas

Tarde:

Dinâmica coletiva. Realização de alguns simulados de prova oral com os candidatos que se voluntariarem, para correção coletiva de erros. 

Nivelamento de conhecimento. Discussão de questões atuais que podem ser objeto de prova. 

Atendimento individual. Esclarecimento de dúvidas pessoais e realização de simulados individuais com os candidatos que preferirem não ser assistidos pelos demais. 

Cada aluno terá oportunidade de ser avaliado pessoalmente pelo professor, durante aproximadamente 15 minutos, perante os colegas ou isoladamente. A atividade será composta das seguintes fases: 

1 – arguição simulada pelo professor

2 – comentários sobre a performance do aluno

3 – esclarecimento de dúvidas individuais que o aluno queira apresentar

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A hora de parar

Este é o tema mais difícil que já abordei aqui no blog. Confesso que venho pensando nisso há muito tempo, mas não tive coragem (ou talvez, talento), para escrever o que penso. Peço que sejam condescendentes com essa postagem. Não quero ofender ninguém (quando quero ofender alguém, como vocês já viram em posts anteriores, sei muito bem como fazer). Mas acho que esse é um tema que nunca foi abordado em relação a concursos públicos no Brasil, e que precisa ser dito. Desculpem-me, desde já, se causar algum mal estar. 

Para que você entenda este post, preciso que você leia a postagem imediatamente anterior, na qual tratei dos conceitos de dor e sofrimento. A dor é necessária para passar em concursos. O sofrimento, opcional. 

Pois bem. A pergunta que proponho é: quando parar de fazer concursos? Quando desistir? Todos os meus colegas (?) gurus de concursos têm uma resposta pronta. Nunca! Desistir é para os fracos! Se um dia você se imaginou Procurador da República, deve perseguir esse objetivo com todas as suas forças, porque um dia você vai conseguir. Afinal, todos somos igualmente inteligentes. Se seu colega conseguiu, você também pode. 

Para quem quer apenas uma dose de motivação para esse início de ano, pode parar de ler por aqui. Fique com essa ideia e vá fundo. Se você se sente suficientemente motivado para ler algo que não seja tão bonito sem querer se matar, vamos adiante. 

Se eu, que tenho 30 anos, dissesse hoje que quero me tornar um tenista do ranking da ATP (eu sequer sei jogar tênis), eu não acho que receberia mensagens de apoio do tipo “vá em frente, todos somos igualmente dotados”. “Se você praticar muito e treinar dia e noite, pode ser um grande tenista”. Não. As pessoas provavelmente diriam “veja bem, você não é mais tão jovem, quem não começa cedo nunca vai chegar a ser um grande tenista. Por que você não pensa em uma outra carreira”? Ou então “mesmo que existam chances de que você se torne um grande tenista, elas são muito pequenas e o sofrimento pelo qual você vai ter que passar para isso – horas e horas de treino etc. - não compensa”. 

Curiosamente, entretanto, ninguém, ninguém mesmo, repete esse discurso do eu-tenista para alguém que queira fazer um concurso público. O discurso é sempre o do parágrafo anterior. Existe um acordo não explícito de que é normal dizer que alguém não é fisicamente capacitado para alguma coisa, mas é ofensivo dizer que alguém não é intelectualmente capacitado para alguma coisa, porque isso equivale a dizer que alguém é burro. Há, segundo um amigo meu, um excesso de revolução francesa. Igualdade demais. 

Meus amigos, na minha opinião e na opinião de todos os pesquisadores de neurociências, as pessoas não são igualmente capacitadas para passar em um concurso público, pelo simples fato de que os atributos intelectuais, tal como os físicos, não são uniformes entre as pessoas. Mesmo que haja variados tipos de inteligências (segundo Howard Gardner, lógico matemático, linguístico, musical, espacial, cinestésico, interpessoal, intrapessoal e naturalista), cada pessoa tem um coeficiente diferente para cada uma delas e – aqui está o ponto importante – nem todas elas são exigidas para um concurso público. 

Aqui está minha primeira tese: pessoas diferentes vão enfrentar graus de dificuldade diferentes para passar em um concurso. Não adianta você se comparar com seu colega de faculdade, que era um vagabundo e hoje é Procurador da República. Pode ser que ele seja mais inteligente que você em um tipo de inteligência que é mais exigida pela lógica do concurso público. 

Assim, não se revolte por isso. Conscientize-se que você terá que experimentar mais dor (= mais horas de estudo) se quiser se manter nesse caminho. Não que eu acredite que esses obstáculos sejam insuperáveis. De modo algum. Mas não existe essa de que todos são iguais no que se refere a concursos públicos. Isso é conversa para vender livro de autoajuda. 

Um bom exemplo disso é a capacidade de memorização. Não é segredo para ninguém que os concursos hoje, especialmente na área jurídica, são predominantemente dependentes da memória, muito mais que da inteligência. Então, quem tem uma boa memória sai na frente. Esse é o meu caso. Eu vivo irritando todo mundo que está a minha volta com a frase “você já me contou esse caso”, porque eu me lembro com facilidade das histórias que as pessoas contam. Quem não tem boa memória, vai ter mais dificuldade. 

Também há pessoas que simplesmente não conseguem ficar sentadas a tarde toda lendo um livro. Simplesmente não conseguem. Não é falta de esforço ou de disciplina. Elas não têm essa capacidade. Como diria minha avó, elas “não têm sofrimento pra isso”. Assim, mesmo que os obstáculos sejam superáveis para algumas pessoas, para outras, dependendo de suas características de personalidade, podem, sim, ser insuperáveis. 

Dito isso, chego e minha segunda e mais polêmica tese: qual é a hora de parar? Qual é a hora de reconhecer que talvez o caminho dos concursos não seja para você? 

Essa hora, na minha opinião, existe e pode ser obtida por vários indícios. Primeiro: você está sofrendo muito por estudar? Não estou falando de dor (que é necessária), mas de sofrimento. Você acorda se arrastando para ir para o cursinho, se sente desmotivado com o estudo, não consegue se concentrar nele, levanta toda hora, entra no Facebook toda hora, no correio web toda hora. No final do dia, percebe que não se lembra de nada do que deveria ter estudado. Suas relações interpessoais (família e amigos) estão sendo prejudicadas pelo estudo. Em síntese, estudar para você não é motivante, mas é um sofrimento. 

Mais do que isso, você percebe que, apesar de todo o esforço e de todo o gasto financeiro que você vem fazendo, você não está avançando nos concursos que faz. Pelo contrário, você não passa em nada e nem fica perto de passar. Essa é a hora de parar. A verdade nua e crua é que quem não fica nem perto de passar em vários concursos, não vai, de repente, passar no seguinte. Ou a pessoa muda radicalmente sua postura ou vai continuar enriquecendo a indústria do concurso. A verdade é a oposta. Quem passa em um concurso, geralmente passa em vários ou fica perto de passar em vários. Não existe a fada madrinha dos concursos, que vai fazer alguém, de repente, passar em uma prova depois de 20 reprovações longe da nota de corte. 

Mas, você se perguntaria, parar para fazer o que? Ser desempregado? Afinal, hoje não há advogados desempregados. Todo mundo que está desempregado está “estudando para concursos”. E é claro que é melhor dizer à família e aos amigos que se está estudando para concursos. Mas, se você está na situação do parágrafo anterior, essa opção só vai prolongar seu sofrimento e suas despesas, com remotas chances de aprovação. É melhor encarar a vida de frente de uma vez, por mais difícil que seja. 

Outra questão, que vale para quem já tem um cargo e está estudando para outro é verificar se vale o sacrifício. Não é se contentar, é estar satisfeito. Vejo muita gente que já ocupa um cargo, por exemplo, de analista, mas sofre porque o cargo que idealizou ocupar quando era aluno era de juiz. Será que esse sofrimento vale à pena? Será que não há outros campos da sua vida em que você possa ser feliz sem alcançar esse cargo? Se você lida bem com isso, excelente, acho até que essa situação (trabalhar e estudar) é a melhor, como já escrevi aqui. Mas, se você está sofrendo, não seria o caso de pensar se não é melhor ser feliz com o cargo que tem do que passar de novo pela maratona do concurso? 

Enfim, a dor é necessária, mas o sofrimento tem que ser opcional. Se o sofrimento está te fazendo mal, pare. E isso não significa necessariamente parar para sempre. Tire um ano (ou um semestre) sabático. Vá fazer outra coisa. Se você precisa de dinheiro, vá advogar ou exercer alguma outra profissão. Se não, pense em algo mais prazeroso. Às vezes, você se descobre. Há inúmeros casos de pessoas que encontraram seu verdadeiro caminho por acaso, quando abandonaram (ou foram demitidos) a carreira que sempre quiseram. Conheço uma estilista nacionalmente famosa que é formada em direito e estudava para concursos. Resolveu parar e achou o seu caminho. Esse pode ser o seu caso. Se, depois desse tempo, você se sentir melhor, volte a estudar. Os concursos estarão lá, do mesmo jeito que estavam. 

Embora muita gente pense assim, ninguém é melhor do que ninguém porque passou em um concurso público. A aprovação pode ser simplesmente o resultado acidental de uma pessoa ter características mentais inatas que são valorizadas (às vezes, injustamente) no concurso. Se, por acaso, o modo de seleção para o cargo fosse outro, aquela pessoa não passaria. Ter um determinado cargo público não fará de você uma pessoa melhor, nem mais feliz.

A mensagem que quero deixar é: nenhuma aprovação vale o preço de sua saúde, nem física, nem mental. É preferível ser honesto com você mesmo e dizer “não sirvo para esse negócio de concurso” do que se impor um sofrimento que, além de ter poucas chances de ser bem sucedido, pode trazer consequências graves. Existe vida além do sonho do concurso público. Existe vida além do pesadelo do concurso público.