O professor Rogério Sanches, meu vizinho de município, apresentou hoje no Periscope uma sugestão de método de estudos sobre a qual gostaria de fazer uma apreciação. O diálogo é sempre importante e percebo que a disposição do professor Rogério em contribuir para os estudos dos alunos é grande, então, vale à pena conversar com ele.
O pressuposto do professor Rogério é o de que fazer resumo é um método muito trabalhoso, que não funcionava para ele. Por isso, ele sugere, basicamente, o seguinte: você pega a doutrina das 8 matérias principais (civil, processo civil, penal, processo penal, constitucional, administrativo, tributário e empresarial), lê e elabora 2 a 3 perguntas por página do livro, em um caderno, anotando apenas a página do livro onde está a resposta. No dia seguinte, antes de começar o estudo, você relê as perguntas de todos os dias anteriores. Se lembrar da resposta, passa adiante. Se esquecer, você volta no livro e lê a resposta. Se você esquecer a mesma pergunta dois dias você a anota em um caderno dos erros, agora com a resposta. Basicamente é isso.
Vantagens do método: estudar por perguntas é bom. Isso é inegável. A leitura simples da matéria faz com que, às vezes, algo pareça muito fácil, não problemático e, com isso, você passa direto. Lê, acha que é bobo e vai adiante. Na hora que cai na prova, você pensa “eu tenho certeza que estudei isso, mas não sei mais”. Lascou-se. Então, estudar por perguntas é bom, sem sombra de dúvidas.
Desvantagens e críticas:
O meu primeiro problema com o método é de pressuposto. Essa ideia, ainda que interessante, não me parece menos trabalhosa que um resumo. Se você fizer um resumo como eu recomendo aqui, com, em média, 10 páginas de livro em 1 de resumo, eu acho que você vai ter tanto trabalho quanto teria para fazer essas perguntas. Isso se comprova até matematicamente: 10 páginas de livro seriam 30 perguntas. 1 folha tem 30 linhas. Assim, no meu método de resumos, você leria 10 páginas e escreveria 1, no resumo. No método do professor Rogério, você leria 10 páginas e também escreveria 1, só que em forma de perguntas. Assim, não me parece verdadeiro que o método seja menos trabalhoso.
Minha segunda consideração é que o método me parece, do modo como foi elaborado, um pouco datado. Hoje, se você quer estudar por intermédio de perguntas, há uma infinidade de bibliografia disponível – inclusive do professor Rogério - com as perguntas já prontas, o que evitaria que você tivesse o trabalho de elaborar suas próprias questões. Me parece que esse tempo seria melhor utilizado fazendo um resumo do que fazendo as perguntas.
Terceiro: no longo prazo, o mais provável é que você vá esquecendo cada vez mais perguntas, aumentando cada vez mais o caderno de erros e, com isso, vai acabar fazendo um resumo nesse caderno, em paralelo ao outro, que você já fez nas perguntas.
Quarto: se forem verdadeiros os problemas anteriores, ao fazer um caderno de perguntas, você vai ter tanto trabalho de elaboração quanto teria para formular um resumo, mas vai terminar com algo que é menos do que um resumo, pois são perguntas, sem resposta. Pense que, em um livro de 1000 páginas, você teria 3000 perguntas, o que me parece um excesso.
Quinto: esse me parece um método com a cara do direito penal, matéria da preferência do professor Rogério (convenhamos, ninguém é perfeito, heheh). Pode ser que isso funcione se você faz perguntas do tipo “Cabe tentativa em crime omissivo?” ou “o que é erro de tipo?” Agora vá elaborar 3 perguntas em uma página de um Constitucional pesado, como é necessário para o MPF, ou de um Tributário horroroso, como o que foi exigido na PFN. Aí você vai ver a coisa pegar!
Sexto: quem faz um bom resumo, não faz para estudá-lo depois. É preciso compreender melhor o paradoxo dos resumos. O melhor resumo, hipoteticamente falando, é aquele que é tão bom que você nunca mais lê, porque, para elaborá-lo, você absorveu tão bem a matéria que não precisa do resumo mais. O resumo é apenas um gatilho de memória, não um novo livro que você está escrevendo.
De todo modo, apesar das minhas discordâncias em relação ao método, é interessante ver pessoas boas se dedicando a pensar formas de estudo. O professor Rogério não propôs, em sua intervenção, nenhum método milagroso ou inflexível. Pelo contrário, deixou clara a necessidade de esforço e só isso, no mundo de hoje, já é um grande mérito. E, é claro, se bem aproveitado, o método pode ter seu valor, para complementar o estudo de algumas matérias. Contudo, eu não o adotaria, de modo geral.
Professor Rogério fica desde já convidado para postar aqui a sua resposta. Será um prazer!