terça-feira, 27 de outubro de 2015

Método de estudos: considerações sobre a proposta de Rogério Sanches


O professor Rogério Sanches, meu vizinho de município, apresentou hoje no Periscope uma sugestão de método de estudos sobre a qual gostaria de fazer uma apreciação. O diálogo é sempre importante e percebo que a disposição do professor Rogério em contribuir para os estudos dos alunos é grande, então, vale à pena conversar com ele.

O pressuposto do professor Rogério é o de que fazer resumo é um método muito trabalhoso, que não funcionava para ele. Por isso, ele sugere, basicamente, o seguinte: você pega a doutrina das 8 matérias principais (civil, processo civil, penal, processo penal, constitucional, administrativo, tributário e empresarial), lê e elabora 2 a 3 perguntas por página do livro, em um caderno, anotando apenas a página do livro onde está a resposta. No dia seguinte, antes de começar o estudo, você relê as perguntas de todos os dias anteriores. Se lembrar da resposta, passa adiante. Se esquecer, você volta no livro e lê a resposta. Se você esquecer a mesma pergunta dois dias você a anota em um caderno dos erros, agora com a resposta. Basicamente é isso.

Vantagens do método: estudar por perguntas é bom. Isso é inegável. A leitura simples da matéria faz com que, às vezes, algo pareça muito fácil, não problemático e, com isso, você passa direto. Lê, acha que é bobo e vai adiante. Na hora que cai na prova, você pensa “eu tenho certeza que estudei isso, mas não sei mais”. Lascou-se. Então, estudar por perguntas é bom, sem sombra de dúvidas.

Desvantagens e críticas:

O meu primeiro problema com o método é de pressuposto. Essa ideia, ainda que interessante, não me parece menos trabalhosa que um resumo. Se você fizer um resumo como eu recomendo aqui, com, em média, 10 páginas de livro em 1 de resumo, eu acho que você vai ter tanto trabalho quanto teria para fazer essas perguntas. Isso se comprova até matematicamente: 10 páginas de livro seriam 30 perguntas. 1 folha tem 30 linhas. Assim, no meu método de resumos, você leria 10 páginas e escreveria 1, no resumo. No método do professor Rogério, você leria 10 páginas e também escreveria 1, só que em forma de perguntas. Assim, não me parece verdadeiro que o método seja menos trabalhoso.

Minha segunda consideração é que o método me parece, do modo como foi elaborado, um pouco datado. Hoje, se você quer estudar por intermédio de perguntas, há uma infinidade de bibliografia disponível – inclusive do professor Rogério - com as perguntas já prontas, o que evitaria que você tivesse o trabalho de elaborar suas próprias questões. Me parece que esse tempo seria melhor utilizado fazendo um resumo do que fazendo as perguntas.

Terceiro: no longo prazo, o mais provável é que você vá esquecendo cada vez mais perguntas, aumentando cada vez mais o caderno de erros e, com isso, vai acabar fazendo um resumo nesse caderno, em paralelo ao outro, que você já fez nas perguntas.

Quarto: se forem verdadeiros os problemas anteriores, ao fazer um caderno de perguntas, você vai ter tanto trabalho de elaboração quanto teria para formular um resumo, mas vai terminar com algo que é menos do que um resumo, pois são perguntas, sem resposta. Pense que, em um livro de 1000 páginas, você teria 3000 perguntas, o que me parece um excesso.

Quinto: esse me parece um método com a cara do direito penal, matéria da preferência do professor Rogério (convenhamos, ninguém é perfeito, heheh). Pode ser que isso funcione se você faz perguntas do tipo “Cabe tentativa em crime omissivo?” ou “o que é erro de tipo?” Agora vá elaborar 3 perguntas em uma página de um Constitucional pesado, como é necessário para o MPF, ou de um Tributário horroroso, como o que foi exigido na PFN. Aí você vai ver a coisa pegar!

Sexto: quem faz um bom resumo, não faz para estudá-lo depois. É preciso compreender melhor o paradoxo dos resumos. O melhor resumo, hipoteticamente falando, é aquele que é tão bom que você nunca mais lê, porque, para elaborá-lo, você absorveu tão bem a matéria que não precisa do resumo mais. O resumo é apenas um gatilho de memória, não um novo livro que você está escrevendo.


De todo modo, apesar das minhas discordâncias em relação ao método, é interessante ver pessoas boas se dedicando a pensar formas de estudo. O professor Rogério não propôs, em sua intervenção, nenhum método milagroso ou inflexível. Pelo contrário, deixou clara a necessidade de esforço e só isso, no mundo de hoje, já é um grande mérito. E, é claro, se bem aproveitado, o método pode ter seu valor, para complementar o estudo de algumas matérias. Contudo, eu não o adotaria, de modo geral.

Professor Rogério fica desde já convidado para postar aqui a sua resposta. Será um prazer!

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Finalmente! Estatuto do Índio, 3ª Edição e Estatuto da Igualdade Racial, 2ª Edição, 2ª Tiragem


Depois de uma longa espera e de muita cobrança por parte dos leitores - pela qual sou imensamente grato - estão disponíveis, no site da editora Juspodivm, as novas edições dos meus livros Estatuto do Índio, em sua 3ª edição, e Estatuto da Igualdade Racial e Comunidades Quilombolas, com a 2ª Tiragem da 2ª Edição. Optamos por realizar uma nova tiragem do Igualdade Racial por uma razão bastante simples: a 2ª edição se esgotou em 5 meses! Assim, não fazia sentido preparar edição nova em tão pouco prazo.

Quanto ao Estatuto do Índio, fico muito feliz de, em 4 anos, desde que foi lançada a 1ª edição, já estarmos lançando a 3ª. Considerando a especificidade do tema, eu não imaginava que a obra fosse tão bem recebida pelos estudantes e, mais recentemente, pela jurisprudência. Em dezembro de 2014, ao julgar a apelação cível 5006662-48.2012.404.7202/SC, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, sob a relatoria do Desembargador Federal Luís Alberto Aurvalle, citou por 4 vezes o Estatuto do Índio para sustentar a conclusão que foi adotada pela turma. (link para o acórdão http://s.conjur.com.br/dl/trf-mantem-sentenca-negou-dano-moral1.pdf)

Assim, agradeço efusivamente aos leitores que foram tão gentis com a obra e disponibilizo os links para quem quiser adquirir. A Juspodivm está, inclusive, com um pacote promocional do Estatuto do Índio com Temas atuais do MPF, que eu organizo, com desconto de R$ 45,00, ou seja, o Estatuto do Índio sai praticamente de graça. Seguem abaixo os links para o site da editora: 




domingo, 4 de outubro de 2015

Os dois milhões e eu


2015 é, sob vários aspectos, um ano significativo para mim. Em 20 de janeiro eu completei 10 anos de colação de grau. Em 4 de agosto, me tornei doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná, sob a orientação do professor Marinoni, algo que, dez anos antes, eu certamente não imaginaria. Em 15 de agosto, completei 10 anos de serviço público. 3 a serviço do meu querido Estado de Minas Gerais, alguns meses como juiz federal e quase 7 anos como Procurador da República.

Além de tudo isso, aconteceu uma coisa que eu também não imaginaria há cinco anos atrás: este blog atingiu os 2 milhões de acessos, em pouco mais de 5 anos de atividades. Não é pouca coisa. Se você imaginar que o atual concurso da AGU tem 26 mil candidatos, é como se cada um deles tivesse acessado a página 77 vezes. Eu jamais supunha que uma proposta tão modesta como a minha pudesse ter um alcance tão grande. Por essa razão, fiquei inspirado a escrever um texto do tipo do discurso “the state of the Union”, que os presidentes dos Estados Unidos fazem anualmente.

Este blog nasceu com uma proposta muito simples e direta: ajudar as pessoas que estão passando por aquilo que passei, ou por algumas coisas que eu não passei, mas que posso entender e, talvez, contribuir. Não é, e nunca foi, a proposta da minha vida para ter um segundo emprego ou para ganhar mais dinheiro do que o meu cargo proporciona.

Isso pode parecer difícil de entender, ou de acreditar, por duas razões: primeiro, porque não é o que usualmente acontece na vida, então, não deve ser verdade. Afinal, não existe almoço grátis. Segundo, porque o meu estilo de redação e minhas opiniões são, devo reconhecer, usualmente um pouco duras e isso passa a impressão de que eu sou um sujeito duro, que não se importa com ninguém.

Nada disso é verdade. Primeiro, realmente o blog não nasceu para ter objetivos financeiros. Há tantas formas de monetizar uma página, que você certamente já viu por aí, que poderá, por comparação, ver que essa não é a intenção aqui. Segundo, apesar do meu jeito de escrever, eu me considero uma pessoa bastante sensível. Se isso não transparece na minha redação acredito que se deva, em parte, a deficiências de estilo, mas também, em parte, à necessidade consciente, que assumi, de combater a cultura de exploração do aluno que grassa o universo dos concursos públicos atualmente, e que me deixa mesmo muito indignado.

É claro que muita gente não gosta disso. A estes eu peço desculpas. Nada do que eu escrevo tem a intenção de ofender deliberadamente a alguém ou a alguma posição que alguém acredite. O que faço é apenas expressar pontos de vista que eu considero valiosos e que, ao dizê-los, submeto ao crivo do bom senso do leitor. Afinal, como eu digo, não há fórmulas, nem mesmo as minhas, que sejam mágicas. Há coisas que funcionam ou não para você. E cada um tem que achar o seu próprio caminho.

Independentemente das pessoas a quem este blog desagradou, por uma razão ou outra, devo dizer que ele me fez muito feliz. Se não ajudou a ninguém, pelo menos, ajudou a mim. Recebi alguns milhares de e-mails e, embora muita gente reclame que não recebeu resposta, o Gmail informa que respondi 808 mensagens. Muita gente me deu a honra de mandar mensagens compartilhando a felicidade de uma tão sonhada aprovação. Outros, enviaram dúvidas tão delicadas, tão sofridas, narrando encruzilhadas em suas carreiras que certamente mudariam suas vidas, que eu respondi, por vezes, com lágrimas nos olhos. Sou grato pela confiança dessas pessoas, que se sentiram inspiradas pelo que escrevo a depositar nas mãos alguém que só conhecem por uma foto na internet seus mais íntimos e decisivos dilemas. Fui até reconhecido, em aeroportos e audiências judiciais, e alguns estudantes até me pediram para tirar fotos com eles, o que atendi, não sem alguma timidez (pode não parecer, mas eu sou um sujeito tímido).

Esse é o “estado do blog”, atualmente. Pouca coisa, devo dizer, mudou. Eu continuo não escrevendo como se isso fosse algum tipo de diário, mas, quando o faço, escrevo algo que me pareça valer o tempo que as pessoas perdem para ler (salvo, talvez, este post). É claro que muitas das minhas ideias sobre estudo já foram expostas ao longo dos anos, mas eu sempre as revisito, atualizo e republico. De vez em quando, como nos últimos dias, surgem coisas novas. Ser um paladino do descrédito não era algo que eu imaginava há alguns anos. Mas a venda de indulgências concursais me empurrou para esse lado.

Mais que isso, acredito em tudo o que escrevi quando comecei. Acho que os avanços do Direito, aos trancos e barrancos, têm tornado o Brasil um país melhor. Acho que ser aprovado em um concurso para ser servidor público não é só um prêmio, mas uma grande responsabilidade. Muitos, infelizmente, continuam no esquema “antes de passar, topo tudo. Depois que passei, não quero mais nada”. Isso é muito triste.

Enfim, é uma alegria saber que tanta gente passou a me conhecer, pelo menos um pouco, por intermédio deste canal. Tenho muito que agradecer-lhes a companhia e o interesse pelas minhas ideias. O compromisso que faço, neste marco de milhões de acessos, é o de que continuo e continuarei sendo sincero no que escrevo.