O fim do ano é, naturalmente, um momento para reflexão. Como disse o mineiríssimo Carlos Drummond:
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”.
Então, me vi na contingência de também oferecer a meus leitores uma pequena reflexão. Minha ideia não é original: outro dia Luís Flávio Gomes postou um vídeo com uma mensagem de natal, que foi bastante divulgada no twitter, sobre o palco vazio da nossa vida, para o qual convidamos outras pessoas. Apesar de bem intencionada, achei a mensagem de uma autoajuda muito pré-fabricada. Fora o look pai-de-santo...
Não digo isso para malhar o LFG. Minha própria reflexão parte disso. LFG é um gênio financeiro. É o Warren Buffett do direito brasileiro. Isso não quer dizer que não erre. Essa é a mensagem que gostaria de deixar a vocês: o erro é algo que precisa ser encarado como parte da vida.
A vida do estudante que se dedica aos concursos é uma luta contra o fracasso. Mesmo quem era competitivo na escola e gostava de comparar suas notas com os outros (sei que você deve conhecer alguém assim), nunca viveu uma experiência parecida com o concurso. Nele, sua vida profissional depende de seu desempenho demonstrado em algumas horas. É muito mais que o vestibular. No concurso, o fracasso traz consequências muito maiores.
Muita gente se abate com isso. Ao longo deste ano recebi dezenas de e-mails de pessoas que se dizem tristes porque foram excelentes alunos e, depois de formados, passaram por muitas reprovações. Todos estavam abatidos. É a eles que digo: até os melhores cometem erros.
Temos, todos, a ideia de que o mundo é justo e que, se nos esforçarmos, necessariamente seremos recompensados. Essa ideia romântica causa muito sofrimento, porque as pessoas se sentem perdidas quando lutam, se dedicam, e não conseguem alcançar o objetivo.
O mundo não é justo. Muitos se esforçam e não alcançam seus objetivos. O que nos diferencia é como lidamos com essa injustiça. Como absorvemos o impacto do golpe e o consideramos um avanço em direção à nossa meta. Isso vale principalmente para quem é reprovado por pouco, em uma prova oral, por exemplo. Isso deveria ser um estímulo, uma amostra de que você está quase lá. Para a maioria, entretanto, é a decepção, o gosto amargo que prevalece. Em um primeiro momento, tudo bem, mas, no longo prazo, é preciso exercitar a superação.
O que quero dizer com isso tudo é que o candidato não pode carregar para a prova o peso de seus fracassos anteriores. Essa bagagem precisa sair. Prometa a si mesmo, no ano novo, emagrecer: emagrecer os quilos que lhe trouxeram as reprovações, as horas furtadas do convívio familiar, os desgostos com os cursinhos, enfim, tudo. Zere sua conta de frustrações. Entenda que todos erram.
Luciano Pavarotti, de quem sou fã número 1, diz em sua autobiografia, sobre o dia em que foi vaiado no Scalla de Milão: se você espera ser aplaudido quando canta bem, tem que esperar ser vaiado quando canta mal. É exatamente isso. É preciso entender que o fracasso é uma parte da vida, tão importante quanto o sucesso. E também é preciso entender que até os melhores, até os Pavarottis, erram.
Procure entender também que a vida é pintura da qual vemos somente uma parte. Aquilo que parece horroroso visto de perto, pode ser maravilhoso no contexto. Eu aprendi isso em minha própria vida.
Meses antes de me graduar, em fins de 2004, fiz um concurso para advogado da MGI, uma empresa pública do Estado de Minas Gerais, e fui aprovado em 2º lugar. Fiquei muito feliz. Embora o salário não fosse excepcional, eu havia acabado de recusar um emprego em um escritório de um professor, decidindo seguir minha vida pelos concursos, e não na advocacia. A condição financeira da minha família à época não era muito boa e eu tenho dois irmãos mais novos, de modo que eu me cobrava muito não monopolizar os recursos, que fariam falta para eles. Com a aprovação, teria a felicidade de formar e já sair empregado.
Tudo ia bem até que, horas antes de minha missa de formatura, recebi a carta registrada da empresa, convocando-me para apresentar a documentação em 7 dias (ainda tenho essa carta). O problema é que na época a prova da OAB não era como agora e, embora eu já a tivesse feito, não havia sido divulgado nem o resultado da primeira fase. Como o cargo era de advogado, a OAB era fundamental. Percebi naquele momento que tinha perdido o cargo.
Fiquei muito triste e isso não saiu da minha cabeça durante todas as festividades de minha formatura. Colei grau no dia 20 de janeiro, já com a perspectiva de ficar “só” estudando. No dia 30 de janeiro fiz a prova da 1ª etapa do concurso de procurador do Estado. Minha nota não me parecia boa, mas, como descobri depois, a prova foi muito difícil e as notas foram todas baixas. Passei para a segunda etapa e, em fevereiro, entrei no cursinho.
Era mais pobre do que quando estudante (desde o 3º período que eu fazia atividades acadêmicas ou estágios remunerados). Ia e voltava para o cursinho a pé. Entre janeiro e abril, emagreci 15 quilos. Por volta do dia 20 de março, fiz a 2ª etapa do concurso. Em 26 de abril, o mesmo professor dono do escritório no qual eu havia estagiado e saído telefonou-me para cumprimentar pela primeira colocação no concurso. O resultado havia sido antecipado e eu não sabia.
Se tudo tivesse acontecido como eu queria, sequer teria prestado esse exame. Se eu tivesse a carteira da OAB, teria ingressado na MGI e estaria nos primeiros dias de meu primeiro emprego público, sem cabeça para pensar em concurso.
Como minhas preces NÃO foram atendidas, consegui um cargo melhor, muito mais bem remunerado, e que me permitiu uma experiência profissional fantástica, única, que foi muito valiosa para minha vida e para minhas aprovações posteriores.
Então, meus caros, lembrem-se de que, quando suas preces não forem atendidas, pode ser que algo melhor lhes esteja reservado no futuro, tal como aconteceu comigo. Não se desespere. Aprenda com o fracasso e, depois, deixe-o para trás.
Ah, mais uma coisa: outro dia perguntaram no twitter se era melhor passar o réveillon estudando ou aproveitar para recarregar as baterias. Respondi que, como diz o meu avô, quem não se contentou com comer, muito menos com lamber. Quem estudou o ano todo e ainda assim acha que não foi suficiente, certamente a noite de ano novo e o dia primeiro de janeiro não o serão. Meu conselho é: caia na gandaia! Aproveite bastante. Se você bebe, tome pelo menos uma tequila por reprovação que teve esse ano, e mais uma por professor ruim que você teve que aguentar (cuidado com o coma alcoólico!). Livre-se da carga dos fracassos. No dia primeiro, durma.
Volte no dia 2, de alma lavada. Pense que todos os fracassos de 2011 são apenas mais uma etapa no caminho da aprovação. Que ela será ainda mais comemorada quando vier. E pense que, como todos, você também tem o direito de errar. Feliz 2012!
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”.
Então, me vi na contingência de também oferecer a meus leitores uma pequena reflexão. Minha ideia não é original: outro dia Luís Flávio Gomes postou um vídeo com uma mensagem de natal, que foi bastante divulgada no twitter, sobre o palco vazio da nossa vida, para o qual convidamos outras pessoas. Apesar de bem intencionada, achei a mensagem de uma autoajuda muito pré-fabricada. Fora o look pai-de-santo...
Não digo isso para malhar o LFG. Minha própria reflexão parte disso. LFG é um gênio financeiro. É o Warren Buffett do direito brasileiro. Isso não quer dizer que não erre. Essa é a mensagem que gostaria de deixar a vocês: o erro é algo que precisa ser encarado como parte da vida.
A vida do estudante que se dedica aos concursos é uma luta contra o fracasso. Mesmo quem era competitivo na escola e gostava de comparar suas notas com os outros (sei que você deve conhecer alguém assim), nunca viveu uma experiência parecida com o concurso. Nele, sua vida profissional depende de seu desempenho demonstrado em algumas horas. É muito mais que o vestibular. No concurso, o fracasso traz consequências muito maiores.
Muita gente se abate com isso. Ao longo deste ano recebi dezenas de e-mails de pessoas que se dizem tristes porque foram excelentes alunos e, depois de formados, passaram por muitas reprovações. Todos estavam abatidos. É a eles que digo: até os melhores cometem erros.
Temos, todos, a ideia de que o mundo é justo e que, se nos esforçarmos, necessariamente seremos recompensados. Essa ideia romântica causa muito sofrimento, porque as pessoas se sentem perdidas quando lutam, se dedicam, e não conseguem alcançar o objetivo.
O mundo não é justo. Muitos se esforçam e não alcançam seus objetivos. O que nos diferencia é como lidamos com essa injustiça. Como absorvemos o impacto do golpe e o consideramos um avanço em direção à nossa meta. Isso vale principalmente para quem é reprovado por pouco, em uma prova oral, por exemplo. Isso deveria ser um estímulo, uma amostra de que você está quase lá. Para a maioria, entretanto, é a decepção, o gosto amargo que prevalece. Em um primeiro momento, tudo bem, mas, no longo prazo, é preciso exercitar a superação.
O que quero dizer com isso tudo é que o candidato não pode carregar para a prova o peso de seus fracassos anteriores. Essa bagagem precisa sair. Prometa a si mesmo, no ano novo, emagrecer: emagrecer os quilos que lhe trouxeram as reprovações, as horas furtadas do convívio familiar, os desgostos com os cursinhos, enfim, tudo. Zere sua conta de frustrações. Entenda que todos erram.
Luciano Pavarotti, de quem sou fã número 1, diz em sua autobiografia, sobre o dia em que foi vaiado no Scalla de Milão: se você espera ser aplaudido quando canta bem, tem que esperar ser vaiado quando canta mal. É exatamente isso. É preciso entender que o fracasso é uma parte da vida, tão importante quanto o sucesso. E também é preciso entender que até os melhores, até os Pavarottis, erram.
Procure entender também que a vida é pintura da qual vemos somente uma parte. Aquilo que parece horroroso visto de perto, pode ser maravilhoso no contexto. Eu aprendi isso em minha própria vida.
Meses antes de me graduar, em fins de 2004, fiz um concurso para advogado da MGI, uma empresa pública do Estado de Minas Gerais, e fui aprovado em 2º lugar. Fiquei muito feliz. Embora o salário não fosse excepcional, eu havia acabado de recusar um emprego em um escritório de um professor, decidindo seguir minha vida pelos concursos, e não na advocacia. A condição financeira da minha família à época não era muito boa e eu tenho dois irmãos mais novos, de modo que eu me cobrava muito não monopolizar os recursos, que fariam falta para eles. Com a aprovação, teria a felicidade de formar e já sair empregado.
Tudo ia bem até que, horas antes de minha missa de formatura, recebi a carta registrada da empresa, convocando-me para apresentar a documentação em 7 dias (ainda tenho essa carta). O problema é que na época a prova da OAB não era como agora e, embora eu já a tivesse feito, não havia sido divulgado nem o resultado da primeira fase. Como o cargo era de advogado, a OAB era fundamental. Percebi naquele momento que tinha perdido o cargo.
Fiquei muito triste e isso não saiu da minha cabeça durante todas as festividades de minha formatura. Colei grau no dia 20 de janeiro, já com a perspectiva de ficar “só” estudando. No dia 30 de janeiro fiz a prova da 1ª etapa do concurso de procurador do Estado. Minha nota não me parecia boa, mas, como descobri depois, a prova foi muito difícil e as notas foram todas baixas. Passei para a segunda etapa e, em fevereiro, entrei no cursinho.
Era mais pobre do que quando estudante (desde o 3º período que eu fazia atividades acadêmicas ou estágios remunerados). Ia e voltava para o cursinho a pé. Entre janeiro e abril, emagreci 15 quilos. Por volta do dia 20 de março, fiz a 2ª etapa do concurso. Em 26 de abril, o mesmo professor dono do escritório no qual eu havia estagiado e saído telefonou-me para cumprimentar pela primeira colocação no concurso. O resultado havia sido antecipado e eu não sabia.
Se tudo tivesse acontecido como eu queria, sequer teria prestado esse exame. Se eu tivesse a carteira da OAB, teria ingressado na MGI e estaria nos primeiros dias de meu primeiro emprego público, sem cabeça para pensar em concurso.
Como minhas preces NÃO foram atendidas, consegui um cargo melhor, muito mais bem remunerado, e que me permitiu uma experiência profissional fantástica, única, que foi muito valiosa para minha vida e para minhas aprovações posteriores.
Então, meus caros, lembrem-se de que, quando suas preces não forem atendidas, pode ser que algo melhor lhes esteja reservado no futuro, tal como aconteceu comigo. Não se desespere. Aprenda com o fracasso e, depois, deixe-o para trás.
Ah, mais uma coisa: outro dia perguntaram no twitter se era melhor passar o réveillon estudando ou aproveitar para recarregar as baterias. Respondi que, como diz o meu avô, quem não se contentou com comer, muito menos com lamber. Quem estudou o ano todo e ainda assim acha que não foi suficiente, certamente a noite de ano novo e o dia primeiro de janeiro não o serão. Meu conselho é: caia na gandaia! Aproveite bastante. Se você bebe, tome pelo menos uma tequila por reprovação que teve esse ano, e mais uma por professor ruim que você teve que aguentar (cuidado com o coma alcoólico!). Livre-se da carga dos fracassos. No dia primeiro, durma.
Volte no dia 2, de alma lavada. Pense que todos os fracassos de 2011 são apenas mais uma etapa no caminho da aprovação. Que ela será ainda mais comemorada quando vier. E pense que, como todos, você também tem o direito de errar. Feliz 2012!