quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Minha mensagem de fim de ano a todos os leitores do blog


O fim do ano é, naturalmente, um momento para reflexão. Como disse o mineiríssimo Carlos Drummond:

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente
”.

Então, me vi na contingência de também oferecer a meus leitores uma pequena reflexão. Minha ideia não é original: outro dia Luís Flávio Gomes postou um vídeo com uma mensagem de natal, que foi bastante divulgada no twitter, sobre o palco vazio da nossa vida, para o qual convidamos outras pessoas. Apesar de bem intencionada, achei a mensagem de uma autoajuda muito pré-fabricada. Fora o look pai-de-santo...

Não digo isso para malhar o LFG. Minha própria reflexão parte disso. LFG é um gênio financeiro. É o Warren Buffett do direito brasileiro. Isso não quer dizer que não erre. Essa é a mensagem que gostaria de deixar a vocês: o erro é algo que precisa ser encarado como parte da vida.

A vida do estudante que se dedica aos concursos é uma luta contra o fracasso. Mesmo quem era competitivo na escola e gostava de comparar suas notas com os outros (sei que você deve conhecer alguém assim), nunca viveu uma experiência parecida com o concurso. Nele, sua vida profissional depende de seu desempenho demonstrado em algumas horas. É muito mais que o vestibular. No concurso, o fracasso traz consequências muito maiores.

Muita gente se abate com isso. Ao longo deste ano recebi dezenas de e-mails de pessoas que se dizem tristes porque foram excelentes alunos e, depois de formados, passaram por muitas reprovações. Todos estavam abatidos. É a eles que digo: até os melhores cometem erros.

Temos, todos, a ideia de que o mundo é justo e que, se nos esforçarmos, necessariamente seremos recompensados. Essa ideia romântica causa muito sofrimento, porque as pessoas se sentem perdidas quando lutam, se dedicam, e não conseguem alcançar o objetivo.

O mundo não é justo. Muitos se esforçam e não alcançam seus objetivos. O que nos diferencia é como lidamos com essa injustiça. Como absorvemos o impacto do golpe e o consideramos um avanço em direção à nossa meta. Isso vale principalmente para quem é reprovado por pouco, em uma prova oral, por exemplo. Isso deveria ser um estímulo, uma amostra de que você está quase lá. Para a maioria, entretanto, é a decepção, o gosto amargo que prevalece. Em um primeiro momento, tudo bem, mas, no longo prazo, é preciso exercitar a superação.

O que quero dizer com isso tudo é que o candidato não pode carregar para a prova o peso de seus fracassos anteriores. Essa bagagem precisa sair. Prometa a si mesmo, no ano novo, emagrecer: emagrecer os quilos que lhe trouxeram as reprovações, as horas furtadas do convívio familiar, os desgostos com os cursinhos, enfim, tudo. Zere sua conta de frustrações. Entenda que todos erram.

Luciano Pavarotti, de quem sou fã número 1, diz em sua autobiografia, sobre o dia em que foi vaiado no Scalla de Milão: se você espera ser aplaudido quando canta bem, tem que esperar ser vaiado quando canta mal. É exatamente isso. É preciso entender que o fracasso é uma parte da vida, tão importante quanto o sucesso. E também é preciso entender que até os melhores, até os Pavarottis, erram.

Procure entender também que a vida é pintura da qual vemos somente uma parte. Aquilo que parece horroroso visto de perto, pode ser maravilhoso no contexto. Eu aprendi isso em minha própria vida.

Meses antes de me graduar, em fins de 2004, fiz um concurso para advogado da MGI, uma empresa pública do Estado de Minas Gerais, e fui aprovado em 2º lugar. Fiquei muito feliz. Embora o salário não fosse excepcional, eu havia acabado de recusar um emprego em um escritório de um professor, decidindo seguir minha vida pelos concursos, e não na advocacia. A condição financeira da minha família à época não era muito boa e eu tenho dois irmãos mais novos, de modo que eu me cobrava muito não monopolizar os recursos, que fariam falta para eles. Com a aprovação, teria a felicidade de formar e já sair empregado.

Tudo ia bem até que, horas antes de minha missa de formatura, recebi a carta registrada da empresa, convocando-me para apresentar a documentação em 7 dias (ainda tenho essa carta). O problema é que na época a prova da OAB não era como agora e, embora eu já a tivesse feito, não havia sido divulgado nem o resultado da primeira fase. Como o cargo era de advogado, a OAB era fundamental. Percebi naquele momento que tinha perdido o cargo.

Fiquei muito triste e isso não saiu da minha cabeça durante todas as festividades de minha formatura. Colei grau no dia 20 de janeiro, já com a perspectiva de ficar “só” estudando. No dia 30 de janeiro fiz a prova da 1ª etapa do concurso de procurador do Estado. Minha nota não me parecia boa, mas, como descobri depois, a prova foi muito difícil e as notas foram todas baixas. Passei para a segunda etapa e, em fevereiro, entrei no cursinho.

Era mais pobre do que quando estudante (desde o 3º período que eu fazia atividades acadêmicas ou estágios remunerados). Ia e voltava para o cursinho a pé. Entre janeiro e abril, emagreci 15 quilos. Por volta do dia 20 de março, fiz a 2ª etapa do concurso. Em 26 de abril, o mesmo professor dono do escritório no qual eu havia estagiado e saído telefonou-me para cumprimentar pela primeira colocação no concurso. O resultado havia sido antecipado e eu não sabia.

Se tudo tivesse acontecido como eu queria, sequer teria prestado esse exame. Se eu tivesse a carteira da OAB, teria ingressado na MGI e estaria nos primeiros dias de meu primeiro emprego público, sem cabeça para pensar em concurso.

Como minhas preces NÃO foram atendidas, consegui um cargo melhor, muito mais bem remunerado, e que me permitiu uma experiência profissional fantástica, única, que foi muito valiosa para minha vida e para minhas aprovações posteriores.

Então, meus caros, lembrem-se de que, quando suas preces não forem atendidas, pode ser que algo melhor lhes esteja reservado no futuro, tal como aconteceu comigo. Não se desespere. Aprenda com o fracasso e, depois, deixe-o para trás.

Ah, mais uma coisa: outro dia perguntaram no twitter se era melhor passar o réveillon estudando ou aproveitar para recarregar as baterias. Respondi que, como diz o meu avô, quem não se contentou com comer, muito menos com lamber. Quem estudou o ano todo e ainda assim acha que não foi suficiente, certamente a noite de ano novo e o dia primeiro de janeiro não o serão. Meu conselho é: caia na gandaia! Aproveite bastante. Se você bebe, tome pelo menos uma tequila por reprovação que teve esse ano, e mais uma por professor ruim que você teve que aguentar (cuidado com o coma alcoólico!). Livre-se da carga dos fracassos. No dia primeiro, durma.

Volte no dia 2, de alma lavada. Pense que todos os fracassos de 2011 são apenas mais uma etapa no caminho da aprovação. Que ela será ainda mais comemorada quando vier. E pense que, como todos, você também tem o direito de errar. Feliz 2012!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Inteligências múltiplas no concurso

Continuando a história do post anterior, li uma coisa no livro do Lair Ribeiro (quando tinha 17 anos), sobre como passar no vestibular, que me marcou muito e que acho muito válida para os concursos. Lair defende que as pessoas têm 3 tipos de inteligência, ou de características predominantes: há os visuais, os auditivos e os cinestésicos. As pessoas que são visuais memorizam melhor aquilo que vêem, os auditivos, o que ouvem, e os cinestésicos, aquilo que sentem. Há vários testes na internet para se identificar como um ou outro. Assim, se você é visual, será proveitoso fazer um mapa mental, que é um resumo em forma de desenho, como um tronco com galhos, apenas com as palavras-chave. Tenho uma colega Procuradora da República que diz que usava esse método e se lembrava perfeitamente daquilo que tinha escrito em cada "galho". Se você é auditivo, pode gravar textos ou aulas, para ouvir depois. Se você é cinestésico, pode fazer resumos, para "sentir" a matéria.

Isso é muito bom para evitar que você perca tempo com a técnica errada. Por exemplo, se você não é visual, não adianta ficar fazendo mapas mentais. Eles são trabalhosos e resultarão pouco benefício. Se não é auditivo, não perca tempo com gravações. Se não é cinestésico, talvez o resumo não seja o melhor para você.

Me parece que isso tem uma consequência importante para quem faz resumos: é melhor fazer o resumo manuscrito que digitado no computador, especialmente se você é cinestésico. Quando escrevemos à mão, o corpo tem que desenhar cada letra, de modo que o aspecto cinestésico é mais estimulado. Cada letra é uma, e você a "sente". Quando digitamos, todas as letras se formam com o mesmo movimento, de modo que a capacidade de memorização do cinestésico, me parece, cairá.

Isso funciona para mim. Sou predominantemente cinestésico (mesmo na época do vestibular, o livro já havia me classificado assim), e um pouco visual. Por isso o resumo manuscrito sempre funcionou. Fiz resumos digitados, e acho que a memorização não foi a mesma. Sou muito pouco auditivo, de modo que se eu não anotava em uma aula, logo estava "viajando". E gravar coisas para ouvir depois, como outros Procuradores da República já me relataram terem feito, é algo que nunca deu certo para mim.

Esse diagnóstico também ajuda a saber como se comportar em aulas. Se você é cinestésico, terá que anotar. Se é visual ou auditivo, talvez seja melhor anotar menos, e se focar na própria aula.

Assim, procure identificar o melhor caminho para você.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Auto-ajuda nos concursos ou a "venda do peixe"

O candidato atento já deve ter percebido que nos últimos tempos pipocaram dezenas de livros sobre aprovação em concurso, ou melhor, sobre gente ensinando como passar em concurso. Eu chamo isso de auto-ajuda concursal. É claro que eu me incluo nisso, mas digo em minha defesa que pelo menos não estou vendendo, estou "dando" o peixe. O blog não é pago e nem tem anunciantes. Elogio quem eu quero e critico (ou xingo) quem eu quero. É uma terapia. A única indicação, vamos dizer, interessada, é de meus próprios livros, porque, como dizia meu professor João Bosco Leopoldino da Fonseca, se eu mesmo não os indicar, quem o fará?

A auto-ajuda geral, não especificamente voltada para concursos, chegou ao Brasil, até onde sei, na década de 90. É a partir daí que editoras passaram a se dedicar sistematicamente a esse ramo.

É claro que há muito, muito lixo na auto-ajuda, e mesmo autores que escrevem coisas boas escrevem outras muitíssimo duvidosas. Lembro que, ainda na década de 90, li 2 livros do "Dr." Lair Ribeiro, um dos precursores nessa questão: um era, desculpem a expressão, quase obsceno, e se chama "Prosperidade: fazendo amizade com o dinheiro". Defendia coisas como contar dinheiro atrai dinheiro, notas de dólar como talismã e outras bobagens. Mas o outro era muito bom: Como passar no vestibular. Na época, é claro, não havia uma faculdade em cada esquina e passar no vestibular era algo que assombrava os estudanrtes de ensino médio como eu. O livro falava de coisas que ainda hoje discutimos, e das quais já falei aqui no blog, como resumos, mapas mentais etc. Um tema que ele abordava, e que me parece interessante, são as múltiplas inteligências, que abordarei no próximo post, apenas para não cortar aqui a história da "venda do peixe".

A auto-ajuda chega ao direito, ao que me parece, por William Douglas, que lançou um livro até hoje campeão de vendas. Tenho algumas, talvez muitas críticas ao livro, talvez decorrentes do fato do William ter feito concurso em um momento muito diferente do atual. Um momento, convenhamos, em que os concursos eram (muito) mais fáceis do que hoje. O apogeu das dificuldades em provas ocorre mais ou menos no final da década de 1990 e início dos anos 2000, quando os cargos públicos, principalmente de magistratura e MP, se tornam de fato muito bem remunerados. Antes, eles não eram assim tão bons.

Mas, enfim, reconheço que William Douglas, como juiz federal, tem credenciais para "vender o peixe". O que me incomoda, aliás, profundamente, é que, recentemente, as editoras têm publicado diversos livros sobre aprovação em concursos de pessoas que sequer têm essas credenciais. Pessoas que passaram em concursos de nível pouco elevado e se gabam de ter passado em 15 ou 20 concursos. Mas vá ver quais concursos são esses! Acho que tem gente contando até o concurso vestibular, para se dizer mais credenciado!

Enfim, é claro que isso é um argumento de autoridade, e que o livro de quem passou em um concurso menos concorrido pode ser melhor que o que eu escrevo aqui, ou do que William Douglas escreve lá. É claro que pode. Mas, na dúvida, eu, se fosse candidato, olharia com muita desconfiança para esses peixes vendidos, especialmente quando se considera que se vai perder um tempo na leitura desses livros. Dizem que, na corrida do ouro, quem ficou efetivamente milionário foram os comerciantes de calças jeans e picaretas, e não os mineradores. Com os concursos acontece o mesmo. Quem fica rico são os donos de cursinho e gente que promete vender o "caminho das pedras". Esse caminho, sempre ressalto aqui no blog, não existe. Cada um deve fazer o seu. Não há dica universal, que sirva para todos. Como diria Neruda, se faz o caminho ao caminhar. Toda dica, inclusive as minhas, deve ser lida com olhar crítico, e deve ser adaptada à realidade de cada um.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Prazos para a prestação de serviços por planos de saúde

Uma questão da qual tratei muito no MPF foi saúde. Há muitos abusos, tanto no segmento público quanto privado. Desvios de verbas, má gestão, médicos que não cumprem horário e outras muitas questões que, no final das contas, acabam desembocando no prejuízo ao usuário, no momento em que ele está mais vulnerável.
Pelo menos, temos tido alguns avanços. Recentemente a ANS publicou uma Resolução normativa estabelecendo prazos máximos para o atendimento pelos planos de saúde. Ainda que, na minha opinião, sejam prazos muito frouxos, é melhor que nada. Então, resta conhecer e exigir o cumprimento:

Resolução normativa 259 da ANS
Serviço Prazo máximo (dias úteis)
Consulta básica (pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia) 7
Consulta nas demais especialidades médicas 14
Consulta/sessão com fonoaudiólogo 10
Consulta/sessão com nutricionista 10
Consulta/sessão com psicólogo 10
Consulta/sessão com terapeuta ocupacional 10
Consulta/sessão com fisioterapeuta 10
Consulta e procedimentos realizados em consultório/clínica com cirurgião-dentista 7
Serviços de diagnóstico por laboratório de análises clínicas em regime ambulatorial 3
Demais serviços de diagnóstico e terapia em regime ambulatorial 10
Procedimentos de alta complexidade 21
Atendimento em regime de hospital-dia 10
Atendimento em regime de internação eletiva 21
Urgência e emergência Imediato
Consulta de retorno A critério do profissional

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Quantas páginas ler por dia


Há uma verdadeira neurose dos candidatos em saber quantas páginas devem ser lidas por dia. É algo quase doentio. Se eu leio menos que outro, então algo está errado comigo. Sempre recebo essa pergunta e outro dia essa discussão se acendeu no twitter.

Minha resposta é que essa é a questão mais irrelevante possível. O que interessa não é o quanto você leu, mas o quanto você aprendeu com as páginas lidas. A pergunta que sempre recomendo, ao final dos estudos, é: "se isso que acabei de ler cair na prova, eu sei responder?" Ou seja, o importante, e aquilo que venho insistentemente ressaltando, é o método de fixação.
 
Além disso, também é relevante ter continuidade no ritmo de estudo. É melhor ler 20 páginas todos os dias, que 100 de uma vez e nada no dia seguinte. O ritmo ajuda na fixação.
 
Dou um exemplo para provar minha tese: quem lê "apenas" 20 páginas por dia será considerado muito relapso pela maioria dos candidatos, que lêem 100, 150. Mais ainda se ele lê essas 20 páginas apenas de 2a. a 6a. sem preocupação com os finais de semana. Vejam que estou exemplificando com um candidato muito relapso ou muito ocupado. Se ele mantiver esse ritmo, lerá 100 páginas por semana, 400 por mês, o que significa que em apenas 2 meses ele terá lido todo o livro da Maria Sylvia ou um manual de parte geral de penal. Está mal? Está excelente. Se ele tiver adotado um bom método de fixação, em 2 meses terá um conhecimento sedimentado que responderá a inúmeras questões de prova.
 
Assim, esqueçam essa bobagem de quantas páginas foram lidas e pensem em quantas páginas foram apre(e)ndidas! Esse é o verdadeiro valor.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O valor da experiência

Meu amigo Rogério Neiva publicou outro dia uma postagem muito interessante sobre um tema que já abordei aqui: a questão de apenas estudar ou trabalhar e estudar. O texto (que está aqui) é o seguinte:

-------------------------
"Vale a pena ser ficar por conta dos estudos voltados à preparação para o concurso público? Vale a pena pedir demissão para se dedicar exclusivamente aos estudos? Vale a pena ser concurseiro profissional? É racional e eficiente a presente atitude? A busca de uma resposta adequada pressupõe a avaliação de um conjunto de variáveis e fatores. E o objetivo do presente texto consiste exatamente na provocação à reflexão e fornecimento de subsídios sobre o tema.

Uma primeira noção importante consiste na compreensão de que o tempo corresponde a um dos principais recursos no processo de preparação para o concurso público. Apesar da falta de tempo não impedir a aprovação, tal recurso tende a impactar na tendência de prazo para que o candidato conquiste o objetivo almejado.

Mas é fato que se o candidato fica exclusivamente por conta dos estudos, teoricamente, estará ampliando o relevante recurso correspondente ao tempo.

No entanto, por outro lado, o candidato que se dedica exclusivamente aos estudos assume um elevado custo de natureza emocional. Ou seja, tende a se sentir pressionado pelo resultado, em condição que não estaria caso não tivesse optado por este caminho.

Naturalmente que este custo emocional varia em função de fatores subjetivos e objetivos.

No plano subjetivo, nem todo mundo percebe e trabalha com adversidades e cobranças da mesma forma. Existem aqueles que contam com uma sensibilidade maior, tendo capacidade mais limitada para conviver com tal cenário adverso e trabalhar soluções. Já outros contam com comportamento contrário, isto é, têm sensibilidade mais contida e menor dificuldade de convivência com adversidades.

No plano objetivo, as diferenças de circunstâncias também determinam distintas avaliações. Por exemplo, um candidato que pede demissão para sobreviver com reservas financeiras limitadas, que contam com prazo de validade, vivenciam um contexto diferente daqueles que dispõe de uma estrutura financeira sem prazo de validade fixado, como no caso do candidato que conta com os pais ou o cônjuge para garantir a sua sobrevivência.

Nesta equação ainda há outra variável a ser considerada, talvez de natureza secundária, ao menos do ponto de vista cognitivo e dos estudos, porém de caráter relevante, que consiste no custo financeiro e custo de oportunidade. O custo financeiro envolve o quanto se gasta materialmente para sobreviver e atravessar esta trajetória. Já o curso de oportunidade corresponde ao que se deixa de ganhar.

Mas o aspecto fundamental é que o candidato deve avaliar os custos e os benefícios de cada opção, pois cada uma conta com seus ônus e bônus. Para aqueles que contam com a opção de seguir um caminho ou outro e estão em dúvida, talvez a matriz abaixo ajude a sistematizar a compreensão do cenário e facilitar a tomada de decisão, inclusive com a atribuição de parâmetros quantitativos ou notas (por exemplo de -10 a +10) em cada célula:



Porém, como tudo na vida é dialético, também é possível encontrar caminhos alternativos. Ou seja, buscar uma ocupação que proporcione uma renda menor, mas garantindo um tempo maior.

Também é possível trabalhar estratégias que envolvam gradações de objetivos e avanços nas condições de estudo conforme as conquistas alcançadas. Por exemplo, o candidato estabelece um objetivo que viabilidade maior e custo de alcance mais limitado. Conquistando, pede demissão do emprego, de modo a ficar por conta dos estudos até ser empossado.

Durante o meu processo de preparação para o concurso que havia eleito como objetivo principal (para o cargo de Juiz do Trabalho), houve um período em que havia pedido exoneração de cargo que ocupava, já estando aprovado no concurso de Advogado da União, para ampliar o tempo de estudo. Porém, de modo a garantir minha sobrevivência, trabalhava como professor na graduação do curso de Direito, apenas no período noturno, de segunda a sexta-feira. Com isto, tinha as manhãs e tardes durante a semana e os finais de semana livres para estudar, o que me rendia quase 50 horas de estudos semanais.

Outra compreensão importante nesta reflexão consiste na diferença entre o conceito de tempo e duração. Enquanto o tempo tem relação com a disponibilidade de horas que o candidato pode investir nos estudos ao longo de micro-unidades de duração, tais como a semana, a duração tem relação com o início do processo de preparação para o concurso público e o seu término, tendo como marco final a aprovação.

Dentre os conceitos metodológicos que fundamentam o Sistema Tuctor, trabalha-se com a idéia de mircounidades de duração, o que corresponde ao conceito de “microciclo de estudos”. Inclusive, tal construção se baseia na noção de fragmentação do plano de estudos, o que tem bases nas ciências da gestão, bem como na andragogia, campo do conhecimento voltado ao estudo da educação de adultos.

E desta premissa decorre outro conceito importante, aplicável à presente reflexão, o qual corresponde à teoria da tripla restrição. Segundo esta, todo projeto se sujeito a três restrições, as quais correspondem à qualidade, tempo e custo. Aplicando a presente idéia à preparação para concursos públicos, o tempo conta com o sentido de duração, sendo delimitado pelo início e fim da preparação, sendo que o custo se relaciona com o tempo, envolvendo a capacidade de investimento do candidato, em termos de horas de estudos por cada unidade de duração.

Na prática, isto significa que a diferença entre um candidato que tem mais tempo para aquele que tem menos consiste exatamente na duração, ou seja, quando terminará o processo de preparação, por meio da aprovação, tendo como parâmetro o início dos estudos.
"
--------------------------------------

O texto, como se percebe muito bem escrito, me parece tender para o entendimento (não expresso), de que se dedicar integralmente ao estudo é melhor. Pode não ser essa a intenção do autor, mas é o que me pareceu (o texto publicado deixa de pertencer ao autor, então...). Como já disse aqui no blog, minha opinião é distinta. Acho que é melhor trabalhar, de preferência em um trabalho criativo e de meio período, e gostaria de declinar, talvez de modo mais explícito, os motivos:

1) É claro que um trabalho de horário integral atrapalha, mas um trabalho de meio expediente ainda lhe deixará, em regra, a manhã e a noite livres.
 
2) Quem só estuda precisa de muito foco, para não se perder em atividades alheias ao estudo, como atividades domésticas, familiares etc. A tendência ao "já que você está aqui, faça isso", é muito grande. Em geral, quem trabalha sabe que o tempo é reduzido, e acaba focando melhor nesses momentos.

3) A capacidade de processamento do cérebro é limitada. Mesmo que você possa ler 500 páginas em um dia, será difícil absorver tudo isso de uma vez. Me parece melhor que as informações venham de modo mais gradual.
 
4) Quem trabalha não tem que dizer que está "só" estudando para concurso, o que é, bem sei, uma pressão social muito grande.
 
5) O trabalho, especialmente se for criativo (atividades como assessor, ou em procuradorias etc) é um grande método de fixação, talvez o melhor. Você nunca se lembrará de algo que leu em um livro tão bem quanto aquilo que teve que resolver no trabalho.
 
6) Estatisticamente, a maior parte, acho que poderia dizer, a imensa maioria dos aprovados para os concursos da magistratura e MP já ocupava outros cargos públicos. O número de "concurseiros", pelo menos nesse nível de cargos, é significativamente menor que o número de pessoas que já trabalhavam. Como esses são os concursos mais difícies, esse dado parece indicar que o trabalho não é, efetivamente, um óbice para que alguém possa ser aprovado.

O que eu concluiria disso? Use o trabalho a seu favor. Se ele é um tempo furtado ao estudo, procure se interessar por aquilo que faz, de modo a transformá-lo em um estudo. Mesmo que você seja um servidor de secretaria, procure ler os processos, entender o que está acontecendo e não apenas fazer aquilo que lhe cabe. Tenha certeza de que isso será representativo. E, é claro, procure se colocar, tão rapidamente quanto possível, em um trabalho que lhe permita aprender.

Um grande problema da geração dos concursos é que a pessoa já entra na faculdade achando que a decoreba e os livros (principalmente as sinopeses) resolvem isso. Faz estágio o mínimo possível e depois não quer cumprir sequer os três anos de efetivo exercício. Isso me parece um grande erro, que tem contribuído para dificultar as aprovações.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Algumas dúvidas sobre os três anos de efetivo exercício

Tenho recebido vários questionamentos por e-mail (os quais estou respondendo, tenham paciência!) sobre os 3 anos de efetivo exercício, que acho que podem ajudar a todos. Vou tratar delas esquematicamente:

1) Função policial conta? Os leitores me disseram que há decisão do CNJ favorável ao escrivão de polícia. Quanto aos demais, eu diria que seria um considerável risco não ser aceita, mesmo se tratando de policial federal, cujo trabalho costuma ser mais intelectual. Se estivesse nessa situação, eu buscaria pelo menos uma aternativa.

2) É possível fazer 3 pós lato sensu? Possível, é claro, é, desde que você queira pagar. Agora, é um grande risco que apenas uma seja contada. Mais uma vez, é preciso cautela: nada pior que passar em um concurso concorridíssimo e ficar nos 3 anos. Eu também buscaria alternativas.

3) Para o advogado, basta figurar na procuração? Não, é preciso assinar os atos praticados.

4) Sobre a contagem para o advogado: vamos esclarecer: nenhum tempo é contado antes da colação de grau. Após, o advogado conta o prazo se tiver 5 petições, ao longo de um ano, não importando a data da primeira nem da última. A dúvida que fica é: e se a colação foi em janeiro, mas a carteira da OAB só saiu em março? Aí torça para não precisar desses 2 meses, porque seria uma briga, mas eu diria que, pelo entendimento do STF, contaria a partir da colação, e não da data da emissão da OAB, à luz do "peculiar calendário forense".
 
 E quais são as tais alternativas: a primeira, como já disse em postagens anteriores, é ser conciliador judicial: é grátis, trabalha-se pouco e conta sem dúvida. A outra, para quem não é impedido, é assinar petições de colegas. Isso não é difícil, embora seja uma burla aos 3 anos. O problema é, em geral, para os servidores, de modo que a conciliação é uma boa saída. De todo modo, se seu cargo for duvidoso (por exemplo, policial militar que exerça atividade de parecerista em processos discipliares) tente obter de seu chefe uma certidão o mais detalhada possível sobre suas atividades. Isso aumentará suas chances.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Lutando consigo mesmo

Recebi recentemente a seguinte mensagem, que me parece retratar muito bem o sentimento de muitos que se dedicam aos concusos:
Tenho acompanhado-o e a medida que posso leio semanalmente algumas de suas postagens. Hoje ao entrar no seu blog li "o fatalismo e a reprovação 2 " na qual me identifiquei muito com a leitora que o escreveu. Na verdade a minha história é muito similar a dela, fui aluna laureada, passei na minha primeira OAB com uma excelente classificação e há cerca de um ano decidi estudar para concursos jurídicos e assim como ela me perdia em meio a tantos livros, não conseguia terminar de estudar os editais ou as vezes quando conseguia terminar ficava tão nervosa que na hora da prova uma dor de cabeça era certa e no fim de tudo quando não conseguia a aprovação, sempre repetia as frases: Não foi a minha hora ou não caiu mais o que sabia.Cansei de ser reprovada, de não conseguir, cheguei até a questionar a minha capacidade ou inteligência e ao ler as postagens sobre "o fatalismo e a reprovação", tal leitura foi como um tapa de luva em mim. Na verdade quando eu ou qualquer pessoa fazemos tais afirmações só desculpamos a nossa incapacidade momentânea. O maior concorrente que possuímos somos nós mesmos e as suas postagens ratificaram isso para mim, de que é possível eu passar no concurso que almejo, inclusive no concurso para Procuradoria da República, basta me esforçar.
Fiquei muito tocado com a mensagem e muito feliz que as postagens estejam ajudando as pessoas que se dedicam aos concursos. Me parece que o primeiro obstáculo a ser vendcido somos nós mesmos, em uma luta longa e trabalhosa na qual nem todos partem do mesmo lugar e nem com as mesmas condições. Acho que, se este blog conseguir passar apenas essa mensagem, já seria suficiente.
Este não é um blog sobre a verdade (supondo que ela exista). É um blog sobre as minhas opiniões. O que espero é que elas possam ser úteis para aqueles que estão no caminho dos concursos, tanto em termos de técnicas, quanto de atitude.
Agradeço a todos que vêm sendo tão gentis nas mensagens que me estimulam a continuar.
Estou devendo dicas sobre a prova oral. Tentarei começar uma sequência de postagens ainda nessa semana. Aguardem.