sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Dicas para concursos: experiência prática

Muitas pessoas me perguntam se é necessário deixar de trabalhar para se dedicar exclusivamente ao estudo. Digo que não.

1) Talvez, se você está começando, seja interessante parar por uns 6 meses, para dar um gás inicial. Mas isso, só se você for uma pessoa disciplinada e com grande capacidade de concentração, para aproveitar bem esse tempo. O que acontecé é que a maioria das pessoas se preocupa mais com o número de horas estudadas, como se o sacrifício fosse o caminho para a salvação, do que com o conhecimento apreendido. Em regra, depois de 3 ou 4 horas de estudo, a produtividade passa a ser muito baixa. Aí você começa a perder tempo. Então, como a maioria das pessoas tem 3 horas livres por dia para estudar, me parece bobagem parar de trabalhar. Estude essas 3 horas bem e isso será mais que suficiente.

2) Se você está trabalhando, a pressão para passar diminui. Você tem seu dinheiro, tem seu emprego, tem uma profissão, não tem que ouvir a pergunta "mas você está só estudando?" então você chega na prova muito mais relaxado, o que melhora muito o seu desempenho. Fazer prova já é difícil, que dirá com toda a carga de sentimentos negativos e de responsabilidade que implicam saber que ou você passa, ou continua fora do mundo, "só estudando". Não me parece que isso seja nada bom.

3) Nada é tão bom para fixar algum conhecimento quanto a experiência prática. Na minha prova aberta de Procurador do Estado caiu uma petição inicial de desapropriação indireta, que eu já havia feito quando estagiário. Eu sabia o número das súmulas de cor. Aprender as coisas em tese é muito mais difícil.

4) Em todos os concuros em que passei, especialmente nos mais difíceis (magistratura e ministério público), observei que a imensa maioria dos aprovados estava estudando e trabalhando, em geral, exercendo algum cargo público anterior. Então, estatisticamente, é bobagem dizer que quem só estuda tem mais chance de passar.

Um comentário:

  1. Olá Dr. Edilson. Descobri seu blog recentemente e já te digo que virei mais um fã seu. Esse post em particular me chamou atenção. Quando se pensa no dilema de só estudar para concurso ou dividir o tempo com uma atividade profissional, muitas vezes não se levam em conta certas particularidades inerentes a certas profissões, bem como a cultura de trabalho da cidade em que se está. Apesar de carioca, formei-me em SP e toda a minha experiência profissional foi construída nessa cidade. Os anos dedicados à advocacia privada me mostraram que, na maioria das vezes, chega a ser quase impossível estudar de verdade para concurso público. De tudo o que vi, tirando alguns poucos sortudos ou privilegiados, a maioria dos advogados paulistanos têm hora pra entrar no serviço, mas não têm hora pra sair. Como não são contratados pela CLT, fazer horas extras não remuneradas é a coisa mais comum e ninguém acha isso anormal. Sem falar das vezes em que se leva serviço pra casa ou quando se tem que trabalhar no final de semana. Pra ser bem honesto, essa já era a minha realidade quando era estagiário, pois pra mim, assim como para muitos, estágio não era só pra aprender, era para pagar minhas contas também. Não obstante, os salários são baixos e muitas vezes o advogado sofre pressão para angariar cliente, sob pena de perder o "emprego". Em suma, os advogados aqui assumem responsabilidade de sócio, mas recebem como "operários" de chão da fábrica jurídica: é o pior dos dois mundos, pois só fica com o ônus. Veja que a maioria nada faz porque, culturalmente, existe uma resistência ao enfrentamento, por medo de ser mal visto no mercado de trabalho. Acrescente-se ainda o fato de que SP é uma cidade muito grande e padece de um problema bastante conhecido de todos: o trânsito caótico. Assim, se o advogado não tem a sorte de morar perto do local de trabalho (e acredite, perto em SP é considerado longe para pessoas de outras cidades), certamente enfrentará horas e mais horas de transporte, deslocando-se de um lado para outro. E para quem depende de transporte público como eu, a situação ainda se agrava, pois os ônibus, metrôs e trens vivem lotados, com raras oportunidades para se sentar, inviabilizando o uso desse tempo para estudo. Quando se observam essas realidades que relatei, acredito que só mesmo se dedicando exclusivamente aos estudos para conseguir aprovação nos concursos. Acho que conciliar trabalho e estudo só é possível quando o trabalho envolver questões mais burocráticas e for minimamente previsível, tanto em sua execução quanto em sua rotina. Do contrário, se a pessoa toda hora tem que sair mais tarde, tem que assumir compromissos extras em razão de situações imprevisíveis e ainda está sempre sujeita a demoradas horas de deslocamento em transporte público lotado, acho que nem o superman com toda a disciplina de Crypton, conseguiria passar em concurso público. Agora, é claro. Estou considerando alguém que esteja começando e tenha que enfrentar o choque inicial de que não só terá de aprender um monte de disciplinas não dadas na graduação como também aprofundar os conhecimentos do que já viu. Agradeço pela oportunidade. Parabéns pelo trabalho. Abraço.

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