quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Auto-ajuda nos concursos ou a "venda do peixe"

O candidato atento já deve ter percebido que nos últimos tempos pipocaram dezenas de livros sobre aprovação em concurso, ou melhor, sobre gente ensinando como passar em concurso. Eu chamo isso de auto-ajuda concursal. É claro que eu me incluo nisso, mas digo em minha defesa que pelo menos não estou vendendo, estou "dando" o peixe. O blog não é pago e nem tem anunciantes. Elogio quem eu quero e critico (ou xingo) quem eu quero. É uma terapia. A única indicação, vamos dizer, interessada, é de meus próprios livros, porque, como dizia meu professor João Bosco Leopoldino da Fonseca, se eu mesmo não os indicar, quem o fará?

A auto-ajuda geral, não especificamente voltada para concursos, chegou ao Brasil, até onde sei, na década de 90. É a partir daí que editoras passaram a se dedicar sistematicamente a esse ramo.

É claro que há muito, muito lixo na auto-ajuda, e mesmo autores que escrevem coisas boas escrevem outras muitíssimo duvidosas. Lembro que, ainda na década de 90, li 2 livros do "Dr." Lair Ribeiro, um dos precursores nessa questão: um era, desculpem a expressão, quase obsceno, e se chama "Prosperidade: fazendo amizade com o dinheiro". Defendia coisas como contar dinheiro atrai dinheiro, notas de dólar como talismã e outras bobagens. Mas o outro era muito bom: Como passar no vestibular. Na época, é claro, não havia uma faculdade em cada esquina e passar no vestibular era algo que assombrava os estudanrtes de ensino médio como eu. O livro falava de coisas que ainda hoje discutimos, e das quais já falei aqui no blog, como resumos, mapas mentais etc. Um tema que ele abordava, e que me parece interessante, são as múltiplas inteligências, que abordarei no próximo post, apenas para não cortar aqui a história da "venda do peixe".

A auto-ajuda chega ao direito, ao que me parece, por William Douglas, que lançou um livro até hoje campeão de vendas. Tenho algumas, talvez muitas críticas ao livro, talvez decorrentes do fato do William ter feito concurso em um momento muito diferente do atual. Um momento, convenhamos, em que os concursos eram (muito) mais fáceis do que hoje. O apogeu das dificuldades em provas ocorre mais ou menos no final da década de 1990 e início dos anos 2000, quando os cargos públicos, principalmente de magistratura e MP, se tornam de fato muito bem remunerados. Antes, eles não eram assim tão bons.

Mas, enfim, reconheço que William Douglas, como juiz federal, tem credenciais para "vender o peixe". O que me incomoda, aliás, profundamente, é que, recentemente, as editoras têm publicado diversos livros sobre aprovação em concursos de pessoas que sequer têm essas credenciais. Pessoas que passaram em concursos de nível pouco elevado e se gabam de ter passado em 15 ou 20 concursos. Mas vá ver quais concursos são esses! Acho que tem gente contando até o concurso vestibular, para se dizer mais credenciado!

Enfim, é claro que isso é um argumento de autoridade, e que o livro de quem passou em um concurso menos concorrido pode ser melhor que o que eu escrevo aqui, ou do que William Douglas escreve lá. É claro que pode. Mas, na dúvida, eu, se fosse candidato, olharia com muita desconfiança para esses peixes vendidos, especialmente quando se considera que se vai perder um tempo na leitura desses livros. Dizem que, na corrida do ouro, quem ficou efetivamente milionário foram os comerciantes de calças jeans e picaretas, e não os mineradores. Com os concursos acontece o mesmo. Quem fica rico são os donos de cursinho e gente que promete vender o "caminho das pedras". Esse caminho, sempre ressalto aqui no blog, não existe. Cada um deve fazer o seu. Não há dica universal, que sirva para todos. Como diria Neruda, se faz o caminho ao caminhar. Toda dica, inclusive as minhas, deve ser lida com olhar crítico, e deve ser adaptada à realidade de cada um.

8 comentários:

  1. O tempo que a pessoa perde lendo um livro de "auto ajuda jurídico" poderia ser utilizado estudando. Ler 600 paginas para aprender a passar, pra mim, não cola.

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  2. Muito bom o texto. Já vinha percebendo isso há muito tempo também.

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  3. João Paulo Bezerra de Menezes21 de dezembro de 2011 às 12:46

    Gostei da última ressalva! Temos, todos, de manter a humildade.

    Sugestão de blog: os concursos, hoje, mensuram conhecimento do direito, ou se preocupam com decoreba de leis e de teorias de nomenclaturas mirabolantes (muitas vezes mera roupagem nova de já conhecidos institutos)?

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  4. Acho válido ter contato com a experiência de outra pessoa que foi bem sucedida naquilo que estou me propondo a fazer. Assim, não pode ser considerada perda de tempo a leitura de um livro sobre concurso, assistir uma palestra, conversar com pessoas aprovadas. Cada pequena dica, adaptada à minha realidade, contribui para meu método de estudo, que sempre pode ser aperfeiçoado. Exatamente por isso mantenho este blog em meus feeds. No entanto, obviamente, precisamos filtrar as informações que recebemos. Mas, na vida não é sempre assim?!

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  5. Excelente texto.
    Acho que a última frase resume tudo. À parte as discrepâncias, os livros, blogs ou quaisquer outras fontes de auxílio tem sim sua utilidade, desde que o leitor saiba aproveitá-los. Li o livro do William Douglas no 1º período, e tem muita coisa bacana - no que tange a métodos de estudo e organização, por exemplo. Outras, nem tanto, ou que não me foram úteis. Como muito bem salientado, o leitor precisa ter bom senso para adaptar isso à sua individualidade.
    Abraço!

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  6. São textos como estes que me fazem ser sua fã!
    Continue ser vida inteligente no mundo virtual, que também está saturado de sites/blogs sobre concursos.
    Abraço afetuoso.
    Ah, Feliz Natal e um super 2012! Estamos juntos!

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  7. Valeu professor, o senhor como sempre com um brilhantismo indiscutível.
    abraço...

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  8. Leitura hipnotizante! Congratulações, professor!

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