domingo, 28 de setembro de 2014

O canteiro de abóboras mais sincero

Sei que alguns de vocês devem estar se perguntando por que eu “sumi” aqui do blog (ok, essa não é a primeira vez, eu sei!). Esse é um ano muito significativo para mim. No final do ano, completo dez anos de graduação. Por mais convencionais que sejam essas datas, a gente acaba refletindo sobre o que fez, o que está fazendo e o que fará. E como a vida me trouxe o benefício de compartilhar algumas das minhas experiências com vocês, meus caros leitores, eu gostaria de fazer uma pausa para isso. 

Eu tenho basicamente três carreiras paralelas. A primeira e principal é o MPF. Dessa eu faço um propósito de não falar aqui no blog. Este site é do Professor Edilson e não do Procurador da República Edilson. Vocês vão encontrar na internet inúmeras notícias sobre o que eu fiz como Procurador, mas não aqui. Não acredito que minha atividade pública deva ser misturada com atividades privadas.

Minhas segunda carreira é a dos concursos públicos. Assim como o MPF, ela tem me feito muito feliz nos últimos 5 anos. Escrevi 2 livros e organizei 1. O Estatuto do Índio já está na segunda edição e, para aqueles que vem perguntando, já estou terminando a revisão do Estatuto da Igualdade Racial e Comunidades Quilombolas. Muita coisa mudou nesses dois anos, mas o livro sai ainda este ano. Também já finalizamos a terceira edição do Temas do MPF, que agora vai se chamar Temas Atuais do MPF. É a maior edição das três e está em fase de diagramação.

Mas o principal dessa minha carreira é, sem nenhuma demagogia, este humilde blog. Ele surgiu, para quem teve infância na década de 1980, com uma proposta de ser o canteiro de abóboras mais sincero. Compartilho aqui minhas opiniões mais sinceras sobre tudo, especialmente sobre preparação para concursos. No mundo do “como passar”, gosto de pensar no blog como “tudo aquilo que você precisa saber (e algumas coisas que você não gostaria de saber) sobre concursos públicos. 

O blog permitiu que eu conhecesse pessoas como candidatos, alguns desesperados precisando de um direcionamento ou, na maioria das vezes, mais de uma palavra amiga. Hoje vários são profissionais em diversas áreas do direito e alguns são meus colegas. Acredito que, considerando o pouco que eu escrevo, esse projeto foi muito bem sucedido, principalmente quando você olha para o 1,5 milhão de acessos aqui do lado direito! Nesses cinco anos, continuo anunciando só os meus livros. O restante das minhas indicações ou contraindicações (não acredito que essa palavra agora escreve tudo junto! Maldito Lula!) é totalmente desinteressada.  Enfim, não tenho palavras para agradecer, mais uma vez, pela confiança e só posso prometer que vou me esforçar para escrever mais.

A minha terceira carreira é a que vocês conhecem menos, mas é a novidade do momento. É a minha carreira de acadêmico “sério”, seja lá o que isso significa. Eu aqui me refiro à minha tentativa de contribuir para a ciência do direito, mais do que para a didática do direito. Isso começou com o meu mestrado, que concluí na minha querida UFMG em 2011 e está se concluindo agora, com o doutorado que espero terminar até o meio do ano que vem na acolhedora UFPR. Foi o doutorado que me levou, no último ano, de volta aos concursos. Resolvi que, como estou estudando ações coletivas, precisava conhecer melhor a experiência dos Estados Unidos. Por isso me candidatei a professor visitante/pesquisador visitante em várias Universidades e acabei aceito como professor visitante em Stanford, onde estou há um mês e meio, graças à decidida posição do MPF de valorizar os seus quadros, que me permitiu uma licença capacitação. Também fui aceito como pesquisador visitante em Harvard, então, quando as aulas aqui terminarem, embora eu continue com minhas atividades extraclasse, vou poder passar um tempo em Harvard também.

Isso é um grande marco para mim. Acho que não preciso descrever a conquista que é ser aceito (ainda que por um curto prazo), em duas das mais prestigiadas universidades do mundo. Mas também é a primeira vez que tenho oportunidade para estudar fora do país e de voltar a ser estudante, desde que ingressei no serviço público, há nove anos e um mês atrás. Espero, quem sabe, encontrar uma resposta para os problemas que me levaram a fazer o doutorado. E espero poder compartilhar um pouco dessa experiência com vocês, que também estudam. 

A primeira impressão, que quero deixar aqui para reflexão de vocês que estão estudando para concursos, é a seguinte: qual é o conceito de estudar “muito”? Vamos manter a sinceridade aqui no canteiro de abóboras, só entre nós. Eu tenho a impressão de que o que nós, brasileiros, chamamos de estudar “muito” não é estudar muito aqui. Vamos aos indícios:

1)   A biblioteca funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. Eu passei todos os sábados e alguns domingos nela. Nunca a vi vazia e olha que o ano letivo começou na semana passada. 

2)   O curso é integral e, em todas as matérias, o professor entrega, no primeiro dia, a lista de leituras para todas as aulas do semestre. É muita leitura e, no primeiro dia, todos os alunos tinham lido a matéria prevista para aquele dia. Isso mesmo. As pessoas receberam o programa antecipadamente e leram antes mesmo do semestre começar. 

3)   As discussões em sala de aula têm intensa participação dos alunos. É verdade, entretanto, que mesmo as turmas grandes só vão até 30 alunos. A maioria das turmas tem uns 15. 

Isso me fez refletir: quando alguém está estudando para concursos e diz que estuda “muito”, o que isso quer dizer exatamente? Vocês sabem que eu sou o defensor número 1 da qualidade antes da quantidade, basta ver o post anterior. Mas, comecei a me perguntar, será que nossos parâmetros não são muito baixos? Será que não passamos a faculdade inteira nos acostumando a fazer tão pouco que, depois, consideramos um esforço grande demais uma carga de estudo que não é assim tão exorbitante? Eu estudo muito e confesso a vocês que me sinto meio “zé moleza” no meio desse pessoal aqui. 

Ainda não tenho uma resposta pra isso, mas espero que consiga ter algo até o final do semestre.

É um grande prazer ter vocês por aqui. Obrigado!  

5 comentários:

  1. Você realmente é um exemplo! Muito sucesso nessa nova etapa desafiadora.Tenho certeza que retornará com uma bagagem ainda maior para contribuir com o nosso país e principalmente com os seus alunos. Que Deus o abençoe sempre! Abraço meu nobre!

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  2. Parabéns professor! Acho que vai levar muito mais conhecimento do que trazer! É um ícone de universidade, um sonho de magistério e aprendizagem! Mas não devemos exagerar no ´'complexo de vira-lata''. Digo: não em termos ''prático de cidadania'', mas no sentido abstrato, nosso ''leque de conteúdo doutrinário'' é bem evoluído!

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  3. professor, que bom que voltou. conheci seu blog ainda neste ano e foi muito bom pra mim, pois pretendo ser procurador da República também. Estou no início dessa caminhada, apesar de já ter 5 anos de formado; e já me lamentava por achar que o sr havia desistido do blog. Li praticamente todos os seus posts, sigo praticamente todas as suas orientações e ainda percebo que muita gente boa da área lhe segue também. Muito obrigado pela ajuda! Quanto à reflexão acerca dos parâmetros que temos no Brasil sobre o que seja estudar muito, creio que seja uma discussão interessante e que devemos sim fazer essa auto-crítica. Fomos acostumados desde cedo a meu ver com a lei do menor esforço. Nas faculdades e colégios não nos esforçamos horrores. Quem é "CDF" lê um ou dois livros no máximo de cada matéria. Não há pesquisa de outros assuntos, de direito comparado, etc. Estudamos por doutrinas que na verdade são cópias de doutrinas estrangeiras, reescritas para agradar aqueles alunos que se acostumaram com o menor esforço. Portanto, discordo do que a colega acima disse. Nós no Brasil temos muitos livros, mas poucos podemos chamar de verdadeira doutrina. Temos pouca ou quase nenhuma criação doutrinária no Brasil. No mais, este seu depoimento de como as coisas ocorrem nos EUA me deu mais motivação para correr atrás. Parabéns pela conquista de estudar em Universidades tão consagradas. Espero um dia chegar aí. Abração.

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  4. Oi Fernando. Quando escrevi "leque doutrinário" não quis dizer que somos o berço criador de doutrinas louváveis e seguidas mundialmente. Levei em consideração o fato de sermos novos no que diz respeito ao nosso trauma colonial! “Copiar” posições doutrinárias não nos faz menos! O que talvez tenha ficado mal colocado (não dando o real sentido que queria expressar), é que temos bons interpretadores doutrinários - com muita dedicação conseguem adaptar, estender, reduzir e por que não criar a partir do já "pensado alheio" outros pontos questionáveis, talvez mais funcionais a nossa realidade?! Bem paradoxal - mas penso que é possível criar copiando! Releitura, por exemplo!

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  5. Me emociono Professor com as suas palavras. Quantas vezes somos mesquinhos, eu mesmo por exemplo, já me deparei com questões que por não cair ou simplesmente não fazer parte do programado no edital, ignorei. Muito obrigada por nos abrir os olhos! E sucesso na sua nova experiência!

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