domingo, 4 de outubro de 2015

Os dois milhões e eu


2015 é, sob vários aspectos, um ano significativo para mim. Em 20 de janeiro eu completei 10 anos de colação de grau. Em 4 de agosto, me tornei doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná, sob a orientação do professor Marinoni, algo que, dez anos antes, eu certamente não imaginaria. Em 15 de agosto, completei 10 anos de serviço público. 3 a serviço do meu querido Estado de Minas Gerais, alguns meses como juiz federal e quase 7 anos como Procurador da República.

Além de tudo isso, aconteceu uma coisa que eu também não imaginaria há cinco anos atrás: este blog atingiu os 2 milhões de acessos, em pouco mais de 5 anos de atividades. Não é pouca coisa. Se você imaginar que o atual concurso da AGU tem 26 mil candidatos, é como se cada um deles tivesse acessado a página 77 vezes. Eu jamais supunha que uma proposta tão modesta como a minha pudesse ter um alcance tão grande. Por essa razão, fiquei inspirado a escrever um texto do tipo do discurso “the state of the Union”, que os presidentes dos Estados Unidos fazem anualmente.

Este blog nasceu com uma proposta muito simples e direta: ajudar as pessoas que estão passando por aquilo que passei, ou por algumas coisas que eu não passei, mas que posso entender e, talvez, contribuir. Não é, e nunca foi, a proposta da minha vida para ter um segundo emprego ou para ganhar mais dinheiro do que o meu cargo proporciona.

Isso pode parecer difícil de entender, ou de acreditar, por duas razões: primeiro, porque não é o que usualmente acontece na vida, então, não deve ser verdade. Afinal, não existe almoço grátis. Segundo, porque o meu estilo de redação e minhas opiniões são, devo reconhecer, usualmente um pouco duras e isso passa a impressão de que eu sou um sujeito duro, que não se importa com ninguém.

Nada disso é verdade. Primeiro, realmente o blog não nasceu para ter objetivos financeiros. Há tantas formas de monetizar uma página, que você certamente já viu por aí, que poderá, por comparação, ver que essa não é a intenção aqui. Segundo, apesar do meu jeito de escrever, eu me considero uma pessoa bastante sensível. Se isso não transparece na minha redação acredito que se deva, em parte, a deficiências de estilo, mas também, em parte, à necessidade consciente, que assumi, de combater a cultura de exploração do aluno que grassa o universo dos concursos públicos atualmente, e que me deixa mesmo muito indignado.

É claro que muita gente não gosta disso. A estes eu peço desculpas. Nada do que eu escrevo tem a intenção de ofender deliberadamente a alguém ou a alguma posição que alguém acredite. O que faço é apenas expressar pontos de vista que eu considero valiosos e que, ao dizê-los, submeto ao crivo do bom senso do leitor. Afinal, como eu digo, não há fórmulas, nem mesmo as minhas, que sejam mágicas. Há coisas que funcionam ou não para você. E cada um tem que achar o seu próprio caminho.

Independentemente das pessoas a quem este blog desagradou, por uma razão ou outra, devo dizer que ele me fez muito feliz. Se não ajudou a ninguém, pelo menos, ajudou a mim. Recebi alguns milhares de e-mails e, embora muita gente reclame que não recebeu resposta, o Gmail informa que respondi 808 mensagens. Muita gente me deu a honra de mandar mensagens compartilhando a felicidade de uma tão sonhada aprovação. Outros, enviaram dúvidas tão delicadas, tão sofridas, narrando encruzilhadas em suas carreiras que certamente mudariam suas vidas, que eu respondi, por vezes, com lágrimas nos olhos. Sou grato pela confiança dessas pessoas, que se sentiram inspiradas pelo que escrevo a depositar nas mãos alguém que só conhecem por uma foto na internet seus mais íntimos e decisivos dilemas. Fui até reconhecido, em aeroportos e audiências judiciais, e alguns estudantes até me pediram para tirar fotos com eles, o que atendi, não sem alguma timidez (pode não parecer, mas eu sou um sujeito tímido).

Esse é o “estado do blog”, atualmente. Pouca coisa, devo dizer, mudou. Eu continuo não escrevendo como se isso fosse algum tipo de diário, mas, quando o faço, escrevo algo que me pareça valer o tempo que as pessoas perdem para ler (salvo, talvez, este post). É claro que muitas das minhas ideias sobre estudo já foram expostas ao longo dos anos, mas eu sempre as revisito, atualizo e republico. De vez em quando, como nos últimos dias, surgem coisas novas. Ser um paladino do descrédito não era algo que eu imaginava há alguns anos. Mas a venda de indulgências concursais me empurrou para esse lado.

Mais que isso, acredito em tudo o que escrevi quando comecei. Acho que os avanços do Direito, aos trancos e barrancos, têm tornado o Brasil um país melhor. Acho que ser aprovado em um concurso para ser servidor público não é só um prêmio, mas uma grande responsabilidade. Muitos, infelizmente, continuam no esquema “antes de passar, topo tudo. Depois que passei, não quero mais nada”. Isso é muito triste.

Enfim, é uma alegria saber que tanta gente passou a me conhecer, pelo menos um pouco, por intermédio deste canal. Tenho muito que agradecer-lhes a companhia e o interesse pelas minhas ideias. O compromisso que faço, neste marco de milhões de acessos, é o de que continuo e continuarei sendo sincero no que escrevo.

8 comentários:

  1. Professor, seu blog sem dúvidas é um dos melhores da blogosfera jurídica. Original, com qualidade e sinceridade que falta na maioria dos que eu já vi. Com certeza é referência. Achei pesquisando sobre o MPF e desde então não parei de acessar. Que venham mais milhões por ai! Sucesso! Abraço.

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  2. Estudo para a Magistratura do Trabalho, mas acesso seu blog muito. Você escreve com o coração, parabéns ! Obrigada pela contribuição em nossas vidas.

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  3. Professor Edilson, seu blog, que acompanho desde o início, é sensacional. Já tirei várias dúvidas aqui e ele me ajuda muito até hoje.
    Obrigado por compartilhar suas idéias conosco.
    Forte abraço! Daniel

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  4. Professor seu Blog foi (e é) importantíssimo para esta minha jornada. Meu foco é MPE, mas venho aqui ler suas orientações e sempre pondero-as e acabo tirando algo de bom para minha vida. Sou de poucos amigos, mas o senhor me chama atenção justamente por colocar a realidade em seus posts, mesmo que não agrade a todos e isto me faz lhe querer bem. Um beijão!

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  5. Não posso dizer nada mais eficiente do que um sincero "Muito Obrigada!".

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  6. Professor, nada na vida acontece por acaso. Aliás, não por acaso eu achei o seu blog e, desde então, eu implementei uma forma de estudos que sem os seus valiosíssimos conselhos e exortações, ainda estaria "tateando". Muito obrigado por tudo. Deus te abençoe ainda mais. Continuaremos a lhe prestigiar, pois sua autenticidade nos cativa. Forte abraço.

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