terça-feira, 29 de setembro de 2015

Da série não acredite em milagres: experiências irrepetíveis

Continuo, parafraseando José Simão, com a minha heroica e mesopotâmica cruzada de combater a venda de soluções mágicas na internet. Hoje quero falar sobre o golpe nº 1 do qual os candidatos são vítimas: experiências irrepetíveis.

O esquema é bem simples, quase tanto quanto um golpe do bilhete premiado. Alguém passou em um concurso cobiçado e se propõe a vender a fórmula da aprovação. Vejam bem: ele não se propõe a dar aulas ou dicar pontuais, mas a vender algum tipo de esquema que ele usou para passar que, se adquirido, permitiria o máximo de desempenho com o mínimo de esforço. Esses dias eu vi um que prometia que alguém ia ser juiz sem ler nenhum livro. Há outros que prometem que você vai estudar o edital inteiro, mais de uma vez, em umas poucas semanas. 

O ardil dessa venda está no fato de que ela é protagonizada por alguém que, de fato, alcançou o objetivo e, por isso, seria credenciado a afiançar a estratégia.

Vejam bem, eu não estou dizendo que essas pessoas fazem isso necessariamente por mal, embora acho provável que isso também ocorra. O que vendedores e compradores não percebem, nesse cenário, é que nem toda experiência de aprovação é repetível. Ser aprovado em um concurso é um evento multifatorial. Ele depende, entre outras coisas, da sua experiência de vida, do conhecimento que você acumulou durante a faculdade, da sua capacidade de raciocínio e de memorização e do rendimento que você consegue obter por hora de estudo. Todos esses fatores são profundamente variáveis entre as pessoas. Assim, ninguém pode andar nos sapatos de ninguém e o fato de você comprar os sapatos de alguém - o resumo, a técnica ou o que quer que seja - não significa que você vai chegar onde essa pessoa chegou.

Por exemplo, eu passei em todos os meus concursos públicos sem ler um livro de processo civil do início ao fim e você não me vêem aqui dizendo que ler livro de processo é inútil. O que aconteceu foi que eu tive aula de processo civil com aquele que considero o melhor professor do país (hoje aposentado): José Rubens Costa, a quem aproveito para registrar minha homenagem. Além de meu professor, ele também foi meu chefe no estágio e meu primeiro empregador. Processo civil, então, sempre foi a minha vida e eu já havia lido muito durante a faculdade. Ler sobre isso para a prova era (e foi) inútil.

Todavia, essa é uma experiência irrepetível. Se eu disser aqui que vou vender as minhas anotações de aula de processo civil, ou que alguém vai passar em concurso sem ler um livro de processo porque eu passei sem ler um livro de processo, vou estar, consciente ou inconscientemente, enganando o meu leitor. Nem todas as experiências são repetíveis. Como diria Neruda, em concursos, se faz o caminho ao caminhar. Então, se você quiser comprar alguma coisa do gênero do que eu descrevi aqui, o faça porque você considera que deve ser um material de qualidade, que vai ajudá-lo a incrementar seus próprios estudos, do seu próprio jeito, não porque isso seja uma fórmula milagrosa.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Aula gratuita de Processo Civil

Eu não sei se todos os leitores sabem, mas minha área de estudo acadêmico primária, fora as questões de índios e minorias, é o Processo Civil. Neste ano, como todos os processualistas, estou envolvido com as inovações da mudança do CPC, que são quantitativamente diversas, embora qualitativamente discutíveis. 

Nesse contexto, resolvi participar de uma espécie de concurso de professores organizado pelo curso CERS, para o qual gravei uma aula sobre o procedimento comum no novo CPC, cujo objetivo é dar um panorama geral das mudanças promovidas pelo novo código. A aula está disponível gratuitamente neste link: http://novotalento.cers.com.br/novo-talento/. Basta logar com o seu facebook. 

Caso você goste, não esqueça de dar um "curtir", que serve como se fosse o seu voto em mim.

Para os graduandos: o motivo de se fazer uma boa faculdade

Eu já disse aqui, mais de uma vez, que minha dica mais importante para um graduando que quer passar em concurso é: faça uma boa faculdade. Nada de fazer cursinho enquanto estuda. No cursinho, a matéria é sempre ministrada com muita rapidez. Se você não tem base suficiente para entendê-la, você vai ter muita dificuldade para acompanhar as aulas. Em outras palavras. O professor de cursinho é como um cara jogando tijolos para você. Se você tiver um alicerce, pode transformá-los em uma parede. Caso contrário, você só leva tijolada na cara. 

Também já disse que fazer uma boa faculdade é muito diferente de fazer uma faculdade boa. Não interessa o quão renomada seja a sua faculdade se você não estuda mais do que para tirar 6 (ou 5, ou 7, ou qualquer outra que seja a nota mínima). Contentar-se com isso é a receita para o fracasso. Ir além, querer mais é o jeito de ser um candidato de sucesso.

Além disso, ser um bom aluno na faculdade faz com que você se acostume a estudar. Muita gente acha que existe uma fórmula mágica que, depois de 5 anos de sexo, drogas (lícitas, eu espero) e rock n'roll vai transformar um aluno displicente em um estudante modelo. 

Esqueça. Estudar é exatamente como fazer exercícios físicos. Se eu me levantar hoje e resolver que vou correr 42 km só vou conseguir acabar morto. Se alguém que nunca estudou resolve que hoje vai passar a estudar 14 horas por dia, a única coisa que vai conseguir é não aproveitar o seu dia. Eu garanto que o seu grau de absorção da matéria será muito baixo e que você vai parar em 2 semanas. 

Esses dias, um leitor, Caio Souza, comprovou, com uma maravilhosa história de sucesso, a minha tese. Recebi o seguinte e-mail, que ele me autorizou a divulgar:


"Boa tarde, professor.
Este é o segundo e-mail que envio para o sr. O primeiro não foi respondido.
Mas não se preocupe: eu entendi o seu silêncio.
Àquela época, havia sido aprovado em vários testes seletivos para estagiários, sendo a maioria em primeiro lugar.
Com aquela idade (talvez 20 anos), e ainda no quinto semestre, eu busquei sua orientação para o concurso do MPF. Perceba a audácia desse jovem rsrs.
Pouco tempo depois, li no seu blog a tarefa de quem ainda cursa a graduação: fazer uma boa faculdade.
Pronto. Estava ali a orientação que eu tanto queria.
De lá pra cá, dediquei-me o quanto pude para o curso de Direito da UFPI.
O resultado, meu amigo professor, foram duas aprovações nos dois únicos concursos que fiz na vida: PGE-BA e PGE-PI.
O primeiro passei no penúltimo semestre do curso; o segundo, no último. O detalhe é que, na PGE-PI, fui aprovado em 8º lugar com 23 anos.
O resultado deste último concurso saiu há alguns dias, mas lembrei de agradecê-lo somente hoje porque recebi outra notícia: serei laureado por ocasião da colação de grau, pois obtive o maior rendimento acadêmico da turma.
"Preocupa-te em fazer uma boa faculdade", certamente, foi o silêncio mais importante da minha vida.
Estou profundamente feliz.
Obrigado, professor!

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O desafio da elaboração de resumos

Se tem uma coisa que sempre me interessou foi a dificuldade na criação e adoção de um método de fixação para os estudos. Eu me impressiono como, mesmo considerando que tenho uma boa memória, não lembro absolutamente mais nada de direito de família e sucessões, matérias que, venhamos e convenhamos, são muito chatas, mas que eu estudei bastante na faculdade. 

Há, na minha visão, 3 possíveis métodos de fixação que já abordei aqui. 

1 - A releitura dos materiais, que me parece praticamente inviável de ser adotada para concursos, dada a extensão do material;

2 - O sublinhamento dos livros e releitura apenas das partes sublinhadas. Há várias técnicas para isso, inclusive com o uso de várias cores, discutidas por alguns professores na internet. É uma técnica boa, mas com o risco de que, como sublinhar é muito fácil, você acabe terminando com uma parte substancial do livro para reler depois; 

3 - Elaborar resumos.

Eu já disse que os resumos são a técnica que mais me agrada. Embora lentos e dolorosos para elaborar, matéria resumida é matéria lembrada. Você dificilmente vai se esquecer daquilo que resumiu, porque seu cérebro precisa processar a informação e transformá-la em um escrito de sua autoria. Isso faz com que a informação seja internalizada e compreendida antes de você passar adiante. 

O lado ruim, certamente, é a demora e o trabalho que dá para elaborar o resumo. Como eu costumo valorizar mais a qualidade do que a quantidade do estudo, acho que isso é um preço interessante a se pagar. Aqui vão algumas dicas para melhorar o seu desempenho, caso a elaboração de resumos também seja a sua preferência: 

1 - Comece pelas matérias principais: resumos são demorados. Se você começar a estudar por direito empresarial, vai levar muito tempo até cobrir as matérias mais cobradas na maioria dos concursos. Se você está prestando, por exemplo, PFN, deve começar por direito tributário, assim, poderá cobrir o maior número de questões no menor tempo. 

2 - Pense bem se vale à pena: resumir é doloroso. Será que é válido resumir direito agrário? Provavelmente não. Mas essa é uma decisão que depende do seu grau de fixação com outros métodos de estudo. Se ele for baixo, então o resumo será válido.

3 - Sublinhe primeiro, resuma depois: com o tempo, eu cheguei à conclusão de que se você lê um segmento inteiro do livro antes de fazer o resumo, a compreensão global da matéria facilita a sua percepção de quais são os pontos principais, o que reduz o tamanho e a dificuldade na elaboração do resumo. Assim, o ideal é que você leia um capítulo, ou alguns subitens de um capítulo, sublinhando o que leu, para depois elaborar o resumo, apenas com base no sublinhado. Pode parecer um retrabalho, mas não é. Você vai escrever menos.

4 - Seja sucinto: o pior resumo é o resumo gigante. Se você não consegue uma média de, pelo menos, 1 página de resumo para 10 de texto, seu resumo vai ficar grande demais. Lembre-se de que você não está escrevendo um livro. O resumo só tem que fazer sentido para você mesmo. Não escreva nada que você acha que se lembraria de qualquer jeito, seja em razão de sua experiência prévia, do conhecimento acumulado ou porque você considera aquela informação óbvia. Essa é a dica mais difícil e só com o tempo você vai conseguir colocá-la em prática com mais desenvoltura.

5 - Escreva à mão: essa dica é polêmica e eu já a havia dado aqui no blog há algum tempo. Eu sempre achei que escrever à mão é melhor que fazer resumos digitados. Tenho a impressão de que o movimento das mãos para desenhar as letras é positivo para ativar o cérebro, mais do que a digitação. Pois bem, recentemente, pesquisadores da Universidade de Princeton concluíram que quem escreve à mão aprende mais e melhor. Vejam só:

"pesquisa de Pam Mueller, da Universidade de Princeton (EUA), e Daniel Oppenheimer, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), mostra que quem toma nota à mão aprende mais e melhor. Para chegar a esse resultado, eles dividiram estudantes em dois grupos: os que anotavam à mão e os que o faziam com laptops. Ao final, os dois grupos – que assistiram a aulas sobre biologia, religião, bioquímica, matemática, economia etc. – foram julgados nos quesitos memória, entendimento, capacidade de síntese e de generalização.
Os voluntários que anotaram à mão – apesar de terem perdido no que diz respeito à quantidade de dados registrada – acabaram se saindo melhor nos itens acima. Os resultados estão em Psychological Science. E o início do título é criativo: ‘A caneta é mais poderosa que o teclado’.
Fazer sem pensar
Por quê? Mueller e Oppenheimer acreditam que escrever à mão requer um processo cognitivo distinto do envolvido em teclar. Segundo eles, quem anota manualmente tem que ouvir, digerir e resumir a informação, pois não se tem a velocidade obtida ao se datilografar. E assim se captura a essência do conteúdo, obrigando o cérebro a se esforçar, o que aumentaria a compreensão e a retenção dos dados.
Ao se teclar, o cérebro não processaria o significado da informação, pois a velocidade da datilografia não deixaria muito tempo para se elucubrar sobre o conteúdo daquilo que se anota. Ou seja, teclar é algo, digamos, robotizado. Ou, como se diz popularmente, ‘fazer sem pensar’, ‘ligar no automático". 

Ainda desconfiado? Pesquisadores da Noruega chegaram à mesma conclusão, conforme texto disponível em http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,escrever-a-mao-melhora-o-processo-de-aprendizagem-aponta-estudo,668363

Então, meus caros, o negócio é deixar o computador para lá, aceitar que o resumo vai ficar um pouquinho zoneado, mas dar preferência ao bom e velho manuscrito.